sábado, 16 de maio de 2020


Como Conheci Otoniel e Oziel

O ônibus do Expresso Minuano gemia subindo pela BR-116 em direção a São   Paulo. As curvas fechadas da rodovia pela serra gaúcha entre Porto Alegre e Vacaria, disputando espaço entre caminhões e automóveis faria a viagem monótona e sonolenta não fossem os penhascos e rios que corriam pelo fundo dos vales que amedrontavam, e ao mesmo tempo encantava os passageiros. A fumaça dos cigarros impregnava o ônibus e se misturava à fumaça negra dos motores dos potentes caminhões. Depois de vinte e cinco horas de viagem chegamos ao terminal de passageiros em São Paulo, um pequeno local, porque a grande estação rodoviária atual era apenas um projeto no papel. Eu tinha apenas dezessete anos de idade e corria atrás de um sonho: Preparar-me para o ministério de pregação da Palavra de Deus.
Quando Deus dá um sonho, até as hienas fogem de você!
A partir de São Paulo, depois de duas horas de espera tomei um ônibus da empresa Pássaro Marrom com destino a Pindamonhangaba. Na rodoviária da cidade de Pinda, em 1964, os táxis eram charretes e raríssimos os automóveis. Sacolejando pela Rua São João Bosco entre casarios antigos e loteamentos novos, chegamos ao antigo prédio em que se instalara o IBAD – Instituto Bíblico das Assembleias de Deus – em 1958. O endereço nunca se apagará da memória: Rua São João Bosco, 1114.
Era 25 de março de 1964. Dali a alguns dias as aulas teriam início, mas houve um atraso devido a demora do pastor Kolenda e esposa Doris que estavam nos Estados Unidos.
Logo a turma do segundo ano chegou e entre eles estava Otoniel Moura de Paula. A turma do primeiro ano foi chegando aos poucos, entre eles Oziel Moura de Paula, irmão de Otoniel. Uma semana depois estourou a revolução militar, o que impediu da maioria dos alunos matriculados para o primeiro ano chegarem. Nossa turma do primeiro ano foi a menor de todos os anos da escola: oito alunos! Ao meu lado se sentava Oziel e Elienai Cabral. Vestíamos paletó, camisa branca e gravata e o uso de sapatos era obrigatório. Nada de chinelos.
A partir daí a missionária Doris contava, então, com três jovens afinados na música: Otoniel, Oziel e Elienai, que, juntamente com Eliel, que já estava graduado formaram um dos mais belos quartetos do Instituto Bíblico.
Doris Lemos, esposa do pastor Kolenda possuía um ouvido absoluto, a ponto de identificar para nós, ao piano, em que tom estava cantando um pardal, e também tinha uma capacidade didática para ensinar música. Em dois anos os alunos aprendiam a solfejar e a fazer arranjos em quatro vozes sem o uso de instrumento algum, apenas usando as notas das pautas musicais na clave de Sol, Dó e de Fá. Apenas usando a técnica. Cantar em semitons é difícil, imagina, então cantar dividindo o semitom, arte que somente ela conseguia. Uma das alunas que entrou para o Instituto Bíblico em 1965 foi Otília de Paula, irmã da dupla Otoniel e Oziel, e, a partir daí a irmã Doris contava com uma voz soprano médio feminina. Anos depois ingressou na escola o Oséias de Paula.  

A música, “Eu Vivia no Pecado”

No ano de 1964 – último ano de Otoniel em Pinda, um grupo de americanos visitou o Instituto Bíblico numa turnê missionária. Encantados com os brasileiros, eles pediram ao Otoniel e Oziel que cantassem uma música bem brasileira. Para surpresa de todos, Otoniel pegou seu violão e, ao lado do poeta Oziel entoaram, para nós, alunos e para os jovens americanos, “eu vivia no pecado”. Nascia ali a primeira canção para o disco compacto que haveria de estourar no Brasil, começando pelo programa do Josias Meneses na rádio Copacabana do Rio de Janeiro, e nascia ali a dupla Otoniel e Oziel que revolucionaria a igreja Assembleia de Deus no Estado do Rio de Janeiro com a fundação da União da Mocidade das Assembleias de Deus do Estado do Rio – UMADER – que participei por vários anos até que viajei para os Estados Unidos.
A partir de 1966 os dois não pararam. Houve, sim, um intervalo de um ano em que Oziel precisou prestar serviço militar e foi enviado pelas forças brasileiras para a República Dominicana.
Depois postarei algo mais. 
 

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Pastores e a política governamental


Pastores e a política governamentalJoão A. de Souza FilhoAgosto de 2018 

Muitos pastores defendem seu ingresso na política usando as figuras de José e de Daniel que se tornaram homens públicos orientando reis e imperadores, mas esquecem que José e Daniel nunca se candidataram a cargos políticos: Eles foram alçados por Deus em tempos especiais com finalidade e propósito: José, foi levantado por Deus para salvar a futura nação de Israel, representada pela família de Jacó da fome. Daniel, passou por cinco imperadores e Deus o levantou para cuidar e proteger a nação de Israel no exílio babilônico e persa.Acompanho a vida, os discursos e os projetos de políticos cristãos em Brasília, tanto católicos, como protestantes, evangélicos, pentecostais e neopentecostais e, faço esta distinção para que o leitor também saiba a raiz de cada um deles. Lamentavelmente, alguns deputados tentam fazer do plenário da câmara um auditório religioso, defendendo interesses religiosos e até falando em línguas! Uma aberração!, mas, outros defendem os interesses do povo brasileiro.Pastor, se você se candidatou a algum cargo político, entregue sua credencial ou renuncie ao pastorado; se você tem algum título de ofício, como evangelista, pastor, apóstolo, patriarca, semideus ou o que quer que seja, não use mais o seu título de ofício, porque de agora em diante você terá que dividir seu tempo com o trono de Deus e o de Satanás, e, obviamente, por ser zeloso Deus não gostará de ter frequentando seu trono alguém que divide espaço com o diabo. Você terá que se dividir entre dois livros: A Bíblia e o Príncipe, de Maquiavel. O primeiro escrito pelo dedo de Deus durante 1600 anos usando pessoas por ele escolhidas; o segundo escrito por Maquiavel que sabia, como poucos, ensinar como deve se fazer política.    Não esqueça que a política é tão sórdida e diabólica que Jesus expulsou a Satanás; e os crentes a buscam. Apresento, a seguir, os dez mandamentos de Maquiavel para os políticos, já que ele é o autor da ciência política:
1. Zelem apenas pelos seus próprios interesses.2. Não honrem a mais ninguém, além de vocês mesmos.3. Faça o mal, mas finja que faz o bem.4. Cobice e procure obter tudo o que puder.5. Mostre-se miserável .6. Seja duro e bruto.7. Engane o próximo toda vez que puder.8. Mate seus inimigos e, se for necessário, os seus amigos.9. Use da força, em vez da bondade ao tratar com o próximo.10. Pense exclusivamente na guerra.Com algumas exceções todos os reis gregos, depois de brilhante carreira foram perseguidos até a morte.Você deve saber circular entre a política e as finanças, e precisa entender que política é dinheiro circulando. É sedução, presentes, suborno, interesses no poder, tramas etc. Tivemos antigamente o imperialismo militar das nações mais fortes, que reduziam os países livres à condição de escravidão. Em seguida, tivemos o imperialismo econômico das grandes nações que conquistavam o mercado para seus produtos. Dentro desses germinou um imperialismo ainda maior, inimigo de todos os povos: O capitalismo. Ele não tem pátria; não tem sentimentos. Devora as nações e os grandes capitalistas usam seu dinheiro para oprimir os povos, seja através do sistema que os enriquece ou através do socialismo comunista. Portanto, não existe sistema político bom!
Em alguns países o capitalismo passou a atentar contra os princípios da civilização cristã, quais sejam, o princípio da família, o princípio da nação e o princípio da igreja. O capitalismo é o permanente proletarizador das massas. O capitalismo, na sua marcha avassaladora, penetra no organismo das nações a fim de aniquilá-lo. Começa, portanto, na escravização dos governos. Essa escravização escraviza um povo; não manda exércitos, mas banqueiros; assumem as mais variadas atitudes para iludir o povo. (Não existe sistema político eficaz, quando é político). O socialismo, política atual do Brasil pretende tirar dos que têm, para dar aos que nada tem, enquanto seus líderes acumulam patrimônio e riqueza tanto aqui quanto no exterior.
Deus mesmo falou ao povo de Israel que ao elegerem um rei, eles deveriam ceder seus jovens para o serviço militar; que as donzelas e moços teriam que trabalhar para abastecer a família real e que a cobrança de impostos afetaria a vida da nação. No reino de Salomão parte da riqueza do palácio foi auferida pela alta carga de impostos sobre o povo e pelo trabalho escravo de milhares e milhares de pessoas.A política exclui a religião. Num partido político unem-se elementos heterogêneos nas convicções religiosas, e homogêneas na convicção política. A fidelidade ao partido anula a fidelidade religiosa. Dessa forma, o crente político nega a Cristo. Este fato está registrado na Bíblia, quando todos os anciãos vieram a Samuel, em Ramá, e pediram-lhe que constituíssem um rei que os julgasse. Deus falou a Samuel: “Não é a ti que eles rejeitam, mas a mim” (1 Sm 8.1-7). É abominável aos olhos de Deus que um crente honre um feiticeiro por causa da política, sendo que a Bíblia manda extirpá-los (Ex 22.18).Partido político é aliança partidária. E as alianças excluem Deus do cenário e trazem para a corte o príncipe deste mundo, Satanás!  


segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Jerusalém: A eterna capital de Israel

Jerusalém: A eterna capital de Israel

João Antônio de Souza Filho


O templo de Herodes o qual Jesus profetizou que seria destruído até os fundamentos é retratado nessa moeda que representa a segunda revolta judaica no ano 135 d. C. Apesar de haver sido destruído 65 anos antes, testemunhas ajudaram a confeccionar a moeda. Ressalte-se que nesta época nem havia mulçumanos no mundo; estes só apareceram à época de Maomé no século VII.
Apesar das escrituras mencionarem Jerusalém em textos anteriores ao reinado de Davi, seu nome não era Jerusalém, mas Jebusalém. O nome Jerusalém ficou unificado nas Escrituras a partir da tradução do hebraico para o grego, a chamada Septuaginta.
Vejamos um pouco da história:
Abraão, quando voltava da batalha com os 318 nascidos em sua casa, passou pelo vilarejo chamado Salém, onde governava um rei-sacerdote de nome Melquisedeque a quem Abraão entregou o dízimo dos despojos de guerra. Anos depois esteve no monte Moriá, para sacrificar seu filho Isaque, então com vinte e cinco anos de idade, é o que afirma Flávio Josefo. Este historiador judeu afirma tratar-se do mesmo lugar, onde no cimo do monte Davi construiria o templo.[1]  A cidade, portanto, existe desde tempos remotos, dois mil e seiscentos anos, mais ou menos antes de aparecer Maomé e sua religião que conquistaria o mundo da época pela espada, e não pela paz.
Quando Josué entrou em Canaã o rei de Jerusalém, Adoni-Zedeque saiu a guerrear com os israelitas com a ajuda de outros reis. O texto de Josué é claro: “Não puderam, porém, os filhos de Judá expulsar os jebuseus que habitavam em Jerusalém; assim ficaram habitando os jebuseus com os filhos de Judá em Jerusalém, até o dia de hoje” (Js 15.63), o que implica afirmar que estavam os jebuseus lá até a época em que o livro foi escrito. Os jebuseus eram uma tribo canaanita, e não era dos descendentes de Ismael.
O livro de Juízes menciona que os israelitas, depois, puseram fogo à cidade (Jz 1.8). “Ora, os filhos de Judá pelejaram contra Jerusalém e, tomando-a, passaram-na ao fio da espada e puseram fogo à cidade” (Jz 1.8).
Apesar de haver sido incendiada os jebuseus a reedificaram e habitaram nela até os dias de Davi. Jerusalém, que se chamava Jebusalém até os dias de Davi era um entrave para a vida social dos israelitas, até que Davi a conquistou definitivamente. Flávio Josefo explica que a parte baixa de Jerusalém ficou destruída, enquanto a fortaleza na parte alta se manteve inalterada. [2]
 Ao que parece o nome Jerusalém só foi dado à cidade depois da conquista de Davi em 2 Sm 5.6-12. Documentos antigos atestam que era conhecida como Urushalem ou Shalem nome dado em homenagem ao deus cananita simbolizado pela estrela Vênus. Shalem, que quer dizer completude (isto é, que tem tudo, paz, harmonia, riqueza), e no decorrer dos anos se tornou Shalom – paz. Urushalem que significa “fundação de Salém” se tornou Jerusalém, ganhando agora o prefixo- Je. É a tradução da palavra hebraica YAH, na realidade uma abreviação da palavra Yahweh. Davi, ao conquistar a cidade acrescentou o nome do seu Deus à cidade, no português com o prefixo “Je”. Shalem era um deus cananita simbolizado por Vênus e ao lado de Ashtar e Moloque eram deuses que representavam também a Baal.
Quando Saul, o primeiro rei de Israel morreu, Davi estabeleceu seu governo em Hebrom durante sete anos e seis meses, e em Jerusalém “reinou trinta e três anos sobre todo o Israel e Judá”, num total de quarenta anos (2 Sm 5.4-5).
Davi rapidamente uniu as tribos de Israel e com uma série de brilhantes vitórias, estendeu o reino de Israel da Fenícia no Oeste ao deserto da Arábia no Oriente. Do rio Orontes no Norte ao golfo de Ácaba, no Sul. Depois do reino estabelecido, Davi trouxe a arca da aliança para a cidade de Jerusalém, até então uma fortaleza habitada pelos jebuseus.
A fortaleza dos jebuseus foi conquistada graças a astúcia e habilidade de Joabe, sobrinho de Davi que, a partir daí se tornou o comandante do exército de Davi. O texto bíblico diz:  
“Depois partiu o rei com os seus homens para Jerusalém, contra os jebuseus, que habitavam naquela terra, os quais disseram a David: Não entrarás aqui; os cegos e os coxos te repelirão; querendo dizer: David de maneira alguma entrará aqui. Todavia David tomou a fortaleza de Sião; esta é a cidade de David. Ora, David disse naquele dia: Todo o que ferir os jebuseus, suba ao canal, e fira a esses coxos e cegos, a quem a alma de David aborrece. Por isso se diz: Nem cego nem, coxo entrará na casa. Assim habitou David na fortaleza, e chamou-a cidade de David; e foi levantando edifícios em redor, desde Milo para dentro” (2 Sm 5.6-9).
Com um punhado de homens Joabe entrou pelo aqueduto subterrâneo, surpreendeu a guarda dos Jebusitas, abriu os portões da cidade e a conquistou para Davi. A partir dali o local passou a ser chamado de Sião ou Cidade de David (2 Sm 5.6-9).
Desde a época do rei Davi, portanto, Jerusalém se tornou a capital dos israelitas. Flávio Josefo, o historiador judeu escreveu: “Desde os tempos de Abraão, que consideramos como autor de nossa raça, era chamada Salém ou Solima: E alguns afirmam que assim a chama o mesmo Homero, pois a palavra templo significa em hebreu segurança ou fortaleza e haviam se passado quinhentos e quinze anos, desde que Josué tinha repartido as terras conquistadas aos cananeus até o dia em que tomou Jerusalém, sem que jamais os israelitas dela tivesse podido expulsar os jebuseus” [3]
 Esta é a parte da história política dos israelenses que fizeram de Jerusalém sua capital. Todos os demais reis de Judá depois de Davi fizeram de Jerusalém a capital da nação. Assim, vimos Jerusalém no plano geopolítico. Agora vejamos a cidade no plano escatológico.

História política e religiosa

Vimos, assim, a história geopolítica da cidade de Jerusalém e sua importância para os israelitas. Mas, como as nações não faziam diferença entre política e religião – até mesmo aqui no Brasil em que religião e política era praticamente uma só coisa – Jerusalém se tornou um tipo ou figura espiritual de uma cidade eterna, invisível, nos céus.
Essa transição do terreal para o espiritual pode ser entendida no lamento de Jesus quando, avisado pelos fariseus que Herodes queria mata-lo e que ele deveria fugir da cidade, Jesus exclamou: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, apedrejas os que a ti são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e não o quiseste! Eis aí abandonada é a tua casa. Pois eu te declaro que desde agora, de modo nenhum me vereis, até que digas: Bendito aquele que vem em nome do Senhor” (Mt 23.37-39 cf. Lc 13.31-35).
Nesta declaração, Jesus está afirmando que no futuro os habitantes de Jerusalém o aclamarão: “Bendito aquele que vem em nome do Senhor”. Jesus, então, coloca Jerusalém no plano escatológico, isto é, no plano futuro de Deus para Israel. Em Mateus 24 Jesus profetiza a destruição de Jerusalém e avisa que aquela geração que o ouvia não morreria sem ver aquele acontecimento.
Para os irmãos do primeiro século, falar em Jerusalém celestial era perfeitamente compreendido, porque logo entendiam a alegoria.
De fato, Nero, imperador romano no ano 67 d.C. enviou Vespasiano e seu filho Tito para guerrear contra Jerusalém. Em Roma, Nero havia ordenado a execução de Pedro e a decapitação de Paulo. Queimara a cidade e colocara a culpa nos cristãos.
Depois de três anos de cerco à cidade, Jerusalém caiu nas mãos dos romanos. Vespasiano, avisado da morte de Nero foi chamado para Roma para ser o imperador, e seu filho Tito se encarregou de destruir a cidade. Não estava nos planos de Tito a destruição do templo, apenas a captura da cidade, mas os sacerdotes militantes se refugiaram no templo que foi atacado e destruído. Flávio Josefo, judeu, que havia passado para o lado dos romanos e servia de intérprete para os romanos foi testemunha ocular deste acontecimento. Ao ver o ouro escorrer pelas pedras do templo incendiado os romanos derrubaram pedra por pedra para tomar o ouro como despojo, cumprindo-se, então a palavra de Jesus àquela geração: “Não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada” (Mt 24.2). Aos que querem se aprofundar na história daqueles dias que antecederam a destruição da cidade recomendo a leitura de História dos Hebreus, Livro Quinto, Sexto e Sétimo a partir da página 648 na edição do ano 1990 da CPAD.
A partir dessa época Jerusalém, destruída, se tornou a vergonha da nação de Israel.

Jerusalém e a escatologia bíblica

Jerusalém, então, deixa seu plano terreal e passa a figurar – exatamente isso; como figura ou tipo – no plano celestial, ora sendo vista como Jerusalém terrena, ora sendo vista como a cidade celestial. Paulo, o apóstolo, em sua epístola aos gálatas, falando da caduquice da lei usa a cidade de Jerusalém como metáfora para falar das duas alianças: A aliança do Antigo Testamento e a do Novo Testamento. Usando Agar, a escrava de Abraão que lhe gerou Ismael e, consequentemente os árabes como uma alegoria, ele afirma que a lei é como Agar, no monte Sinai na Arábia, e que, pode ser comparada à atual Jerusalém que está em escravidão – espiritual – com seus filhos. E, depois diz: “Mas a Jerusalém lá de cima é livre, a qual é nossa mãe” (Gl 4.22-31). Que tipo de escravidão, tinha Paulo em mente ao escrever aos gálatas? A cegueira espiritual.
À semelhança de Jesus, Paulo retira de Jerusalém o status terreal e a apresenta na esfera espiritual. Quando se olha para Jerusalém terreal deve-se sempre ter em mente que ela é uma figura da igreja no plano espiritual. Não estou, de maneira alguma tirando o mérito da Jerusalém terreal, que é linda, que emociona os cristãos e lhes inspira, mas enfatizando que a velha cidade e seus conflitos no plano natural apontam também para a Jerusalém celestial que é a igreja. Os acontecimentos na Jerusalém natural, obviamente são reflexos dos acontecimentos na Jerusalém celestial. Este é um tema a ser abordado futuramente.
Tomemos como exemplo o texto da carta aos hebreus que, ao falar de Abraão, o homem da fé, diz: “Porque (Abraão) aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador (...) Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial (...) porquanto lhes preparou uma cidade” (Hb 11.10, 16). Que cidade Abraão aguardava? Jerusalém? Esta já existia geograficamente na pequena aldeia de Salém onde Abraão se encontrou com o rei-sacerdote Melquisedeque (Gn 14.18-24).
Para entender qual cidade Abraão visualizou e almejou alcançar, no plano escatológico, deve-se levar em conta que a cidade que tem fundamentos é a igreja, cujo fundamento é Jesus Cristo. “Sobre esta pedra”, disse Jesus, “edificarei a minha igreja” (Mt 16.18). É sobre este fundamento, Cristo, que os apóstolos edificaram a igreja. Paulo afirma que lançou o fundamento, como “prudente construtor” e que o fundamento é Cristo (1 Co 3.10-11). Mais adiante diz: “edificados sobre o fundamento dos apóstolos e profetas, sendo ele mesmo, Cristo Jesus, a pedra angular” (Ef 2.20). Portanto, a única cidade que tem fundamentos sólidos é a igreja, porque Jesus é o fundamento da igreja, assim como uma pedra exerce duplo papel nas construções antigas: Serve de pedra angular, pela qual todo edifício é alinhado e como fundamento sobre a qual se edifica o prédio.
Assim também Pedro, ao falar da igreja, fala desse fundamento, a pedra angular, eleita e preciosa. Este texto de Pedro é esclarecedor porque coloca Jesus Cristo e a igreja alinhados, assinalando que Jesus é a pedra angular, e nós, casa espiritual, como pedras que vivem:
“chegando-vos para ele, pedra viva, rejeitada, na verdade, pelos homens, mas, para com Deus eleita e preciosa, vós também, quais pedras vivas, sois edificados como casa espiritual para serdes sacerdócio santo, a fim de oferecerdes sacrifícios espirituais, aceitáveis a Deus por Jesus Cristo. Por isso, na Escritura se diz: Eis que ponho em Sião uma principal pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será confundido. E assim para vós, os que credes, é a preciosidade; mas para os descrentes, a pedra que os edificadores rejeitaram, esta foi posta como a principal da esquina, e: Como uma pedra de tropeço e rocha de escândalo; porque tropeçam na palavra, sendo desobedientes; para o que também foram destinados” (1 Pe 2.4-8).
Uma pedra, afirma Pedro, pode servir de edificação e de tropeço. Jesus serve para a edificação dos que nele creem, os que não acreditam nele, tropeçam na pedra ou são por ela esmagados! Da mesma maneira em relação a Jerusalém que está em Israel: Os que nela veem se cumprir o plano escatológico são edificados; os que nela não creem são por ela esmagados.
Assim, no plano escatológico Jerusalém terreal é vista como figura da Jerusalém celestial que é a igreja. A cidade que tem fundamentos que Abraão aguardava é a igreja. Para entender melhor este tema é importante ler o Apocalipse de João e sua visão da cidade celestial:
“E vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que descia do céu da parte de Deus, adereçada como uma noiva ataviada para o seu noivo. E ouvi uma grande voz, vinda do trono, que dizia: Eis que o tabernáculo de Deus está com os homens, pois com eles habitará, e eles serão o seu povo, e Deus mesmo estará com eles. Ele enxugará de seus olhos toda lágrima; e não haverá mais morte, nem haverá mais pranto, nem lamento, nem dor; porque já as primeiras coisas são passadas” (Ap 21.2-3). A igreja aparece no plano espiritual adornada como noiva, para ser entregue ao noivo.
Percebe-se, aqui a presença de uma cidade celestial, a nova Jerusalém, lugar em que Deus habitará com o seu povo. Trata-se de algo celestial, não da Jerusalém atual, muito pequena para conter a presença de tão grande Rei. Depois, o anjo convidou a João para ver a cidade: “Vem, vou lhe mostrar a noiva, a esposa do Cordeiro”. E que diz o texto? “E levou-me em espírito a um grande e alto monte, e mostrou-me a santa cidade de Jerusalém, que descia do céu da parte de Deus, tendo a glória de Deus...” (Ap 20.9-10).
Quem é visto nas escrituras do Novo Testamento como noiva ou esposa do Cordeiro? A igreja passa a ser usada por Deus no plano espiritual, como instrumento de sua vontade, e nela, agora, estão judeus e não judeus, isto é, todos os povos, incluindo os inimigos naturais de Israel. “Para que, pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus se torne conhecida, agora, dos principados e potestades nos lugares celestiais, segundo o eterno propósito que estabeleceu em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Ef 3.10-11).
A igreja, hoje, e não o Israel natural se tornou “casa de Deus... vivo, coluna e baluarte da verdade” (1 Tm 3.15).  O autor aos hebreus, outra vez nos conduz ao sentido de Jerusalém no plano espiritual: Mas tendes chegado ao Monte Sião, e à cidade do Deus vivo, à Jerusalém celestial, a miríades de anjos; à universal assembleia e igreja dos primogénitos inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados; e a Jesus, o mediador de um novo pacto, e ao sangue da aspersão, que fala melhor do que o de Abel” (Hb 12.22-24).
Novamente aqui a expressão, “Jerusalém celestial”. Que cidade, então, João viu no Apocalipse? A cidade celestial, a Jerusalém, a igreja! Que cidade Abraão viu lá no início de sua caminhada de fé? A igreja ou Jerusalém celestial.
Concluindo, pois, a Jerusalém daqui, no plano natural continua a ser uma figura da Jerusalém celestial. O que acontece no plano natural é consequência dos acontecimentos no plano espiritual. A reconquista da cidade velha pelos judeus no ano de 1967 exerceu influência no mundo espiritual. Na ocasião, os judeus tiveram a oportunidade de destruir o atual Domo da Rocha e construir ali o seu templo. Mas, num acordo feito sete dias depois com os árabes, os líderes da época, Ben-Gurion e Moshe Dayan decidiram que aquela parte, num raio de cem metros ficaria sob o controle da Jordânia. Houvessem eles tomado a decisão de ficar com aquela área, certamente aquele acontecimento teria influenciado a escatologia atual. Deus tem lá seus planos!
E, como é que Jesus vê o atual estado espiritual de Jerusalém natural? A resposta ele mesmo a dá em Apocalipse 11.8 ao falar das duas testemunhas – ou oliveiras conforme Zacarias 4.11-14, “os dois ungidos que assistem junto ao Senhor de toda a terra. Apocalipse, diz: “E o seu cadáver ficará estirado na praça da grande cidade que, espiritualmente, se chama Sodoma e Egito, onde também o seu Senhor foi crucificado” (Ap 11.8).
Portanto, o próprio Jesus é quem afirma que, atualmente, Jerusalém terreal se assemelha a Sodoma e ao Egito, lugares nada recomendáveis nas Escrituras. O primeiro, por ser cidade permissiva; o segundo por ser país símbolo da escravatura. Assim, quando alguém visitar Jerusalém, tenha em mente que nos dias de hoje não é uma cidade tão santa, porque, a Jordânia, país onde se deram muitos acontecimentos no AT como a peregrinação do povo, o monte Ebal, o monte Nebo, as águas de Meribá, a serpente levantada no deserto – para citar essas – e o ministério de Elias, o lugar de seu arrebatamento, são acontecimentos que se deram na Jordânia e o povo árabe de lá considera seu país uma terra santa!
Assim, quando se afirma que Jerusalém é cidade santa, não se deve esquecer que existem outros lugares considerados santos, como o país da Jordânia, mas que, aos olhos de Cristo ele não os vê assim!
 Aos que pensam que o templo dos judeus, ao ser construído será importante, devo afirmar que escreverei sobre o tema mais adiante.








[1] JOSEFO, Flávio, CPAD p 59
[2] JOSEFO, Flávio, CPAD p 135
[3] JOSEFO, Flávio, História dos Hebreus, CPAD p 177

Chamada Ministeiral

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

A destruição de Jerusalém no ano 70



Depois de exaustivas horas terminei de ler o relato do historiador Flávio Josefo sobre o cerco a Jerusalém comandado por Tito, filho de Vespasiano. Vários são os livros de Josefo para relatar tão terrível episódio. Josefo é extremamente detalhista, e descreve muito bem como era a cidade de Jerusalém, o templo, seus palácios e como era a formação do exército romano.
Por que Jerusalém foi destruída e seu templo queimado?
Flávio Josefo, judeu e colaborador dos romanos, percebendo que não poderia vencer os romanos em sua cidade passou para o lado de Tito tornando-se porta-voz dos romanos e intérprete nas negociações entre Roma e Jerusalém. Descreve a Tito como homem compassivo, perdoador e que queria apenas que os judeus se entregassem e que fossem subalternos de Roma e, que em nenhum momento ordenou que o templo fosse queimado e destruído.
Os dois principais líderes da cidade, João e Simão recusavam-se a se entregar e prendiam e matavam todos os que tentavam sair de Jerusalém para salvar suas vidas. Esses dois líderes judeus sacrificaram o povo da cidade, mas não se entregavam. Resistiram aos romanos durante três anos e meio. A cidade de Jerusalém era mui fortificada e impenetrável para os ataques romanos. Seus vários muros feitos com várias camadas de grandes pedras resistiam as batidas ferozes das máquinas romanas. Uma das portas do templo feita toda em bronze maciço era tão pesada que era preciso vinte homens fortes para abri-la, tornando o templo um lugar impenetrável ao inimigo.
Durante o cerco havia na cidade de Jerusalém, segundo os números de Josefo um milhão e cem mil homens, eram judeus de todo o mundo que haviam chegado a Jerusalém para a celebração da Páscoa e ficaram ali presos, devido ao cerco dos romanos. Havia escassez de alimentos, pessoas morriam aos milhares de fome, uma mulher rica, tendo todos os seus bens roubados pelos líderes da cidade matou seu próprio filhinho para se alimentar, e, apesar dos pedidos de Flávio Josefo e de Tito para que se entregassem, os dois líderes não se entregavam e matavam quem queria fugir da cidade.
Depois de anos de cerco os corpos jaziam apodrecidos nas casas, ruas e esgotos da cidade causando um cheiro insuportável, a ponto de as pessoas comerem a carne dos recém mortos para se alimentarem.
Falsos profetas pregavam que a cidade resistiria e um deles provocou a morte de seis mil pessoas que queriam sair da cidade, mas deram crédito a um deles. Nenhum deles soube perceber os sinais miraculosos, que, para os creem no poder de Deus devem ser levados em conta. O historiador relata alguns desses sinais testemunhados antes do início do cerco dos romanos por muitas pessoas e não lendas, como ele mesmo escreve:
1. Um cometa que tinha a forma de uma espada apareceu sobre Jerusalém, durante um ano inteiro.
2. Antes de começar a guerra, o povo se reunira no dia oito de abril, para a festa da Páscoa, e pelas nove horas da noite, viu-se durante uma meia hora, uma luz tão forte ao redor do altar e do templo que se teria pensado que era dia. Os ignorantes acharam que era um bom sinal, mas os santos e conhecedores das coisas santas viram isso como um presságio de algo ruim que estava para acontecer.
3. Durante essa mesma festa uma vaca que era levada para ser sacrificada, deu à luz um cordeiro no pátio do templo.
4. Pelas seis horas da tarde a porta do templo que está para o lado do oriente e que é de bronze e tão pesada que vinte homens mal a podem empurrar, abriu-se sozinha, embora estivesse fechada com enormes fechaduras, barras de ferro e ferrolhos, que penetravam bem fundo no chão, piso este feito de uma só pedra. Os ignorantes interpretaram-no ainda como um bom sinal, dizendo que Deus abriria a seu favor suas mãos liberais para cobri-los com toda sorte de bens. Mas, os mais sensatos julgaram o contrário: Que o templo se destruiria por si mesmo.
5. “Um pouco depois da festa, a vinte e sete de maio aconteceu uma coisa que eu temeria relatar, de medo que a tomassem por uma fábula, se pessoas que também a viram, ainda não estivessem vivas e se as desgraças que lhes seguiriam não tivessem confirmado sua veracidade: Antes do nascer do sol viram-se no ar, em toda aquela região, carros cheios de homens armados, atravessar as nuvens e se espalharem pelas cidades, como para cerca-las”.
6. No dia da festa de Pentecoste, os sacerdotes estando a noite no interior do templo, para o divino serviço, ouviram um ruído e logo em seguida uma voz que repetiu várias vezes: Saiamos daqui!
Esses relatos acima estão à p 680 do Livro Sexto, capítulo 31 da História dos Hebreus.
Um profeta de Deus
Deus, que sempre avisa seu povo das desgraças enviou a Jerusalém, quatro anos antes do começo da guerra, quando Jerusalém vivia em plena paz, prosperidade e fartura, a Jesus, filho de Anano, que era então um simples camponês, tendo vindo à festa dos Tabernáculos, que se celebra todos os anos na cidade, e exclamou: “Voz do lado do oriente, voz do lado do ocidente, voz do lado dos quatro ventos, voz contra Jerusalém e contra o templo: voz contra os recém-casados e as recém-casadas, voz contra todo o povo.” Dia e noite ele percorria toda a cidade repetindo as mesmas palavras.
Alguns ricos da cidade não aguentando tal pressão mandaram prendê-lo e açoitá-lo, mas ela ficava mudo e nada dizia para se fender, nem para se queixar de castigos tão severos. Os magistrados, imaginando que aquela era uma profecia futura, levaram-no a Albino, governador da Judeia. O governador mandou açoitá-lo até vê-lo sangrar, mas ele nada dizia. Não suplicava, não derramava lágrimas, mas a cada golpe que lhe davam repetia com voz queixosa de dolorida: “desgraça sobre Jerusalém”. Quando Albino lhe perguntou quem ele era e de onde viera, o profeta ficou mudo. Repetia, apenas, sem cessar as mesmas palavras: “desgraça, desgraça, desgraça sobre Jerusalém”
Josefo afirma que esse profeta continuou assim por sete anos e cinco meses, sem interrupção alguma, sem que sua voz enfraquecesse ou que ficasse rouca. Não injuriava quem lhe maltratava. Quando Jerusalém foi cercada viu-se o efeito de suas predições: Dando voltas às muralhas da cidade, pôs-se a clamar ainda com mais vigor: “Desgraça, desgraça sobre a cidade, desgraça sobre o povo, desgraça sobre o templo”. Depois disse: “Desgraça sobre mim” e uma pedra atirada por uma máquina de guerra derrubou-o por terra e ele morreu balbuciando as mesmas palavras.
Depois de três anos e meio de cerco, Tito tentou convencer os judeus a se entregar, mas os dois líderes João e Simão não o quiseram, e, eles mesmos colocaram fogo nas imediações do templo e, mais tarde no próprio templo e em toda a cidade. Tito, que queria preservar o templo que era o centro de adoração das nações, precisou entrar ali e destruir os rebeldes judeus. O cerco dos romanos e a guerra civil dos judeus, juntos ceifaram a vida de um milhão e cem mil homens. Este cálculo deveu-se a um censo feito na páscoa anterior a guerra quando foram sacrificados duzentos e cinquenta mil e seiscentos animais. O cálculo foi feito na ocasião pelo número de pessoas de cada família que vinha sacrificar seu animal, que geralmente eram de dez a vinte pessoas. Este foi um censo encomendado por Céstio.
E, assim, com o templo queimado, as pedras da Fortaleza Antônia arrancadas em seus alicerces, com as fundações do templo reviradas pelos soldados romanos em busca do ouro derretido do incêndio, cumpriu-se a predição de Jesus registrada em Mateus 24.2: “Não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada”. E cumpriu-se, também a maldição dos homens que no dia da crucificação de Cristo, disseram: “Caia sobre nós o seu sangue e sobre nossos filhos!” (Mt 27.26).
A descrição minuciosa do cerco à cidade, a forma como Tito tratava bem os judeus e os perdoava, as palavras de advertência proferidas por Flávio Josefo pedindo aos líderes que se rendessem para o bem do povo e a maneira como esses líderes preferiram matar seus próprios cidadãos e queimar o templo estão relatadas nos Livros Quinto e Sexto da obra História dos Hebreus, uma publicação da CPAD, Casa Publicadora das Assembleias de Deus.