O livre-pensador
e a dinastia farisaica
João A. de Souza
Filho
Julho de 2014
“Rogo-vos, irmãos, pelo
nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não
haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição
mental e no mesmo parecer” (1 Co 1.10).
Certas pessoas fazem
das palavras de Paulo aos irmãos da igreja de Corinto, uma regra utópica.
Explico. O autor de Utopia, Thomas More, em livro publicado em 1516 escreveu
sobre uma sociedade maravilhosa, em que todos pensam igual e possuem tudo em
comum. Thomas More era grande perseguidor da igreja e nele está a raiz do
socialismo comunista. Pois parece que Thomas More conseguiu fazer reviver suas
teorias em algumas igrejas que não entendem o que Paulo escreveu: “Rogo-vos,
irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa
e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma
disposição mental e no mesmo parecer” (1 Co 1.10).
Ora, Paulo não está
condenando quem tenha opinião diferente, até porque escreveu a respeito das opiniões
diferenciadas que os irmãos podem ter quanto a certas práticas judaicas em
Romanos 14. Paulo está afirmando e ensinando que, com a respeito a Cristo todos
devem pensar a mesma coisa, “unidos, na mesma disposição mental e no mesmo
parecer”. Na igreja de Corinto Cristo estava sendo dividido em pedaços pelas
opiniões de pessoas que seguiam a Pedro, Paulo, Apolo e Barnabé. É disso que
Paulo trata. Ele os exorta a que todos os irmãos pensem uniformemente a respeito
a Cristo!
Mas, convenhamos, alguns
líderes e igrejas exigem uniformidade em tudo, especialmente na maneira de
pensar. Qualquer pessoa que pense diferentemente da liderança de algumas
igrejas é tratado como rebelde ou excluído do rol de amizades. Líderes dessa
estirpe vivem no limiar de condenar as pessoas e assassiná-las pelo que elas
pensam, dizem e escrevem. Bem, especialmente quando elas escrevem, porque aí
fica registrado o que elas pensam; e por isso passam a ter sua história de vida
julgada e sua reputação assassinada, não pelo que vivem, mas pelo que pensam.
Esse tipo de comportamento me remete a
cinquenta anos atrás quando alguns pastores exigiam que todas as irmãs usassem
tranças que caíssem pelos ombros e proibiam os coques; outros exigiam que elas
usassem cabelos soltos. E, outros, só admitiam que usassem coques. E, tais
coisas serviam de condição para tomar a ceia. Eram pessoas que viveram em
outros tempos, na limitação de sua fé. Hoje, no mundo de pluralidade, as únicas
coisas inegociáveis são as doutrinas da fé, mas, aqueles que têm pensamentos
sobre política, economia, sobre pessoas e até sobre pastores não podem ser
condenados e jogados na fogueira da falsa espiritualidade por discordarem, no
entanto, para alguns líderes, quem pensa diferentemente se torna inimigo cruel
de suas igrejas.
Nós, a quem Deus
concedeu a capacidade de escrever e de expor ideias pela escrita somos os que
mais sofremos – refiro-me a todos os escritores e articulistas – porque temos
que ser sinceros com nossa consciência e com os pensamentos. Ora, alguns de nós
já levamos nosso pensamento cativo a Cristo, como Paulo afirma em 2 Coríntios
10.5 mas, tal como Cristo era condenado pelo que ensinava, assim também
sentimos arder sob nossos pés a fogueira da inquisição moderna.
É próprio dos jovens
escritores viverem com medo de expor o que pensam, e o fazem corretamente,
porque têm uma senda longa e sinuosa pela frente a percorrer, e podem ir para a
fogueira da inquisição evangélica cedo demais, mas, um escritor como eu que
beira os setenta anos de idade e que já foi tantas vezes apedrejado por suas
opiniões nada tem a temer. Até porque me respalda a longa jornada de cinquenta
anos de ministério a serviço de Cristo e de sua igreja sem disso obter vantagem
pessoal alguma. Além de que o Cristo que servimos nos impulsiona a seguir em
frente.
Quando se julga uma
pessoa pelo que ela pensa, usa-se da espada humana para dividir o corpo de
Cristo e separar uns dos outros. Particularmente, a contribuição que Deus me
permitiu dar ao corpo de Cristo no Brasil, especialmente com os livros de
louvor que mudaram radicalmente a liturgia das igrejas; os livros de guerra
espiritual e livros para pastores e líderes formam o leito por onde correram e
correm ideias, como águas cujo leito é rochoso; ideias firmadas na Palavra de
Deus.
E o livre-pensamento é
herança do cristianismo que pavimentou o caminho da democracia. Na igreja de
Corinto, nos dias de Paulo havia pessoas que guardavam o sábado; outras o
domingo que é o dia de nosso Senhor e ainda outros não observavam dia algum.
Havia crentes que guardavam festas, luas, meses e dias conforme a tradição
judaica, e outros que se sentiam livres de tradições, no entanto, viviam na
mesma igreja e comungavam do mesmo Cristo. Hoje, formaram-se guetos espirituais
de quem pensa diferente e tem grupos que radicalizaram em sua experiência
mantendo-se o mais longe possível daqueles a quem consideram hereges na fé.
Fica aqui a dica: Em
Cristo, unidade; no serviço diversidade e no pensamento liberdade.