terça-feira, 22 de julho de 2014



O livre-pensador e a dinastia farisaica
João A. de Souza Filho
Julho de 2014

“Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer” (1 Co 1.10).
Certas pessoas fazem das palavras de Paulo aos irmãos da igreja de Corinto, uma regra utópica. Explico. O autor de Utopia, Thomas More, em livro publicado em 1516 escreveu sobre uma sociedade maravilhosa, em que todos pensam igual e possuem tudo em comum. Thomas More era grande perseguidor da igreja e nele está a raiz do socialismo comunista. Pois parece que Thomas More conseguiu fazer reviver suas teorias em algumas igrejas que não entendem o que Paulo escreveu: “Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que faleis todos a mesma coisa e que não haja entre vós divisões; antes, sejais inteiramente unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer” (1 Co 1.10).
Ora, Paulo não está condenando quem tenha opinião diferente, até porque escreveu a respeito das opiniões diferenciadas que os irmãos podem ter quanto a certas práticas judaicas em Romanos 14. Paulo está afirmando e ensinando que, com a respeito a Cristo todos devem pensar a mesma coisa, “unidos, na mesma disposição mental e no mesmo parecer”. Na igreja de Corinto Cristo estava sendo dividido em pedaços pelas opiniões de pessoas que seguiam a Pedro, Paulo, Apolo e Barnabé. É disso que Paulo trata. Ele os exorta a que todos os irmãos pensem uniformemente a respeito a Cristo!
Mas, convenhamos, alguns líderes e igrejas exigem uniformidade em tudo, especialmente na maneira de pensar. Qualquer pessoa que pense diferentemente da liderança de algumas igrejas é tratado como rebelde ou excluído do rol de amizades. Líderes dessa estirpe vivem no limiar de condenar as pessoas e assassiná-las pelo que elas pensam, dizem e escrevem. Bem, especialmente quando elas escrevem, porque aí fica registrado o que elas pensam; e por isso passam a ter sua história de vida julgada e sua reputação assassinada, não pelo que vivem, mas pelo que pensam.
 Esse tipo de comportamento me remete a cinquenta anos atrás quando alguns pastores exigiam que todas as irmãs usassem tranças que caíssem pelos ombros e proibiam os coques; outros exigiam que elas usassem cabelos soltos. E, outros, só admitiam que usassem coques. E, tais coisas serviam de condição para tomar a ceia. Eram pessoas que viveram em outros tempos, na limitação de sua fé. Hoje, no mundo de pluralidade, as únicas coisas inegociáveis são as doutrinas da fé, mas, aqueles que têm pensamentos sobre política, economia, sobre pessoas e até sobre pastores não podem ser condenados e jogados na fogueira da falsa espiritualidade por discordarem, no entanto, para alguns líderes, quem pensa diferentemente se torna inimigo cruel de suas igrejas.
Nós, a quem Deus concedeu a capacidade de escrever e de expor ideias pela escrita somos os que mais sofremos – refiro-me a todos os escritores e articulistas – porque temos que ser sinceros com nossa consciência e com os pensamentos. Ora, alguns de nós já levamos nosso pensamento cativo a Cristo, como Paulo afirma em 2 Coríntios 10.5 mas, tal como Cristo era condenado pelo que ensinava, assim também sentimos arder sob nossos pés a fogueira da inquisição moderna.
É próprio dos jovens escritores viverem com medo de expor o que pensam, e o fazem corretamente, porque têm uma senda longa e sinuosa pela frente a percorrer, e podem ir para a fogueira da inquisição evangélica cedo demais, mas, um escritor como eu que beira os setenta anos de idade e que já foi tantas vezes apedrejado por suas opiniões nada tem a temer. Até porque me respalda a longa jornada de cinquenta anos de ministério a serviço de Cristo e de sua igreja sem disso obter vantagem pessoal alguma. Além de que o Cristo que servimos nos impulsiona a seguir em frente.
Quando se julga uma pessoa pelo que ela pensa, usa-se da espada humana para dividir o corpo de Cristo e separar uns dos outros. Particularmente, a contribuição que Deus me permitiu dar ao corpo de Cristo no Brasil, especialmente com os livros de louvor que mudaram radicalmente a liturgia das igrejas; os livros de guerra espiritual e livros para pastores e líderes formam o leito por onde correram e correm ideias, como águas cujo leito é rochoso; ideias firmadas na Palavra de Deus.
E o livre-pensamento é herança do cristianismo que pavimentou o caminho da democracia. Na igreja de Corinto, nos dias de Paulo havia pessoas que guardavam o sábado; outras o domingo que é o dia de nosso Senhor e ainda outros não observavam dia algum. Havia crentes que guardavam festas, luas, meses e dias conforme a tradição judaica, e outros que se sentiam livres de tradições, no entanto, viviam na mesma igreja e comungavam do mesmo Cristo. Hoje, formaram-se guetos espirituais de quem pensa diferente e tem grupos que radicalizaram em sua experiência mantendo-se o mais longe possível daqueles a quem consideram hereges na fé.
Fica aqui a dica: Em Cristo, unidade; no serviço diversidade e no pensamento liberdade.