sábado, 3 de setembro de 2016

O neopentecostalismo e a farsa evangélica

João A. de Souza Filho
Setembro de 2016







A água ungida (adquirida na torneira), o santo óleo de Israel - comprado no mercado da esquina - a vassoura ungida, a caneta da prosperidade e o sabão ungido são algumas das muitas mentiras dos neopentecostais!

Este artigo é longo, mas precisa ser lido como forma de reflexão da vida da igreja. A dinâmica da vida e a influência das redes sociais tiraram das pessoas a capacidade de refletir e de ler textos longos. O Twitter nos impôs frases com 140 caracteres. O Facebook lhe permite ler umas poucas frases e até as pregações dos pastores se resumem hoje a mero vinte minutos de exposição bíblica – quando as há.
Ao começar este artigo preciso afirmar uma coisa: Sou pentecostal de raiz. Comecei a frequentar a escola dominical com meus irmãos, ainda pequenino, assim que mamãe se converteu ao evangelho puro de Jesus Cristo. Corria o ano de 1952. A Assembleia de Deus era uma igreja pura em sua doutrina. Doze anos depois eu ingressava no Instituto Bíblico das Assembleias de Deus em Pindamonhangaba aprendendo aos pés de João Kolenda Lemos, Tio João Pedro Kolenda, João de Oliveira, missionária Dorris Lemos e Elsie Stroll além das visitas periódicas de Orlando Boyer de quem obtive meus primeiros livros que ele editava com tanto ardor.
Desde então nunca parei de pregar e de anunciar o Evangelho. E lá se vão mais de 52 anos de vida ministerial! Ao longo dessas cinco décadas a denominação pentecostal, uma das mais antigas – porque a Congregação Cristã chegou um pouco antes ao Brasil – mudou. Parece um paradoxo: Tornou-se mais culta teologicamente através de seus seminários e dos excelentes livros editados pela CPAD, financeiramente mais rica, intelectualizada e mais neopentecostal. Esta última qualificação, a do neopentecostalismo é paradoxal, contraditória e difícil de ser analisada: Como uma igreja conseguiu se desviar tanto da ortodoxia cristã!
Não se tem notícias de que a Congregação Cristã do Brasil tenha se desviado de rota – afinal, não convivo entre aqueles irmãos e nem sou aceito como irmão em Cristo da parte deles – mas, a Assembléia de Deus se desviou da rota doutrinária. A literatura oficial da CPAD diz uma coisa; a prática nas igrejas da mesma denominação é outra.
O neopentecostalismo cresceu na seara pentecostal como joio no meio do trigo. E a cada dia o joio é mais vistoso e mais evidente abafando o trigo da fé. 
 No ano de 2008 escrevi que somente a partir do novo milênio seria possível perceber a infiltração de elementos na igreja deixando-a mais universalizada e neopentecostalizada. Houve uma mudança de rota e de estilo de vida, conforme o leitor verá a seguir: 
1. No campo doutrinário. Uma descaracterização da ortodoxia, isto é, um relaxamento ou pulverização das regras de fé, antes defendidas a “unhas e dentes”. Aspectos doutrinários, ou de ensinos ficaram pulverizados com a pluralidade doutrinária, pluralidade de pensamento e com a secularização da teologia. Denominações pentecostais históricas como as Assembléias de Deus tornaram-se pluralistas sob vários aspectos. Algumas aceitam o divórcio, outras o repugnam – para citar um exemplo. Algumas têm grupos de danças em sua liturgia, outras cultuam a Deus como faziam 80 anos atrás. Até mesmo na teologia existem diferenças. Hoje existem igrejas pentecostais sem quaisquer manifestações que a caracterizavam como pentecostal.
Liturgia. Uma pulverização da liturgia. A igreja ao longo dos séculos sempre introduziu novos elementos em sua liturgia, nestes últimos anos, porém, a igreja submeteu sua ortodoxia litúrgica a novas influências, algumas igrejas até desprezando a hinódia tradicional e centenária que regia os cultos e a vida da igreja. Se por um lado os novos elementos litúrgicos, como bandas, 40 ou 50 minutos de cânticos, danças e teatros reativaram os cultos, por outro, certas características foram lentamente desaparecendo, como a importância da pregação, reverência e ordem nos cultos.
Danças. Esta pulverização – até certo ponto com perda de identidade – trouxe para os púlpitos e palanques a entrada de grupos de danças, ou adoração artística. Algumas igrejas vêem nisto uma necessidade; outras utilizam grupos de danças apenas em festas ou celebrações especiais. A maioria faz das danças uma rotina igualando-as aos cânticos e orações. Alguns vêem perigos neste novo elemento que poderá descaracterizar o culto a Deus, tornando-se um culto a algum “deus”.
Instrumentos musicais. O uso de apenas um trio de instrumentos – bateria, guitarra e baixo – o desprezo ou alienação dos pianistas e organistas em troca de tecladistas que apenas tocam cifras, e não melodias trouxe para os cultos uma liturgia limitada a estes instrumentos – sem o toque litúrgico tão comum ao som do órgão e do piano, de instrumentos de sopro e outros de cordas, como o violino e seus semelhantes. Agregue-se a isto a infiltração de músicas e letras repetitivas, sem rimas, métrica e poesia. Além dos mantras que levam as pessoas a alucinações mentais, confundidas com experiências espirituais. Etc.
Mensagens de auto-ajuda. A falta da pregação expositiva bíblica em troca de mensagens apenas tópicas; o desaparecimento das pregações doutrinárias em troca de mensagens positivistas e de auto-ajuda e a falta de conhecimento bíblico vêm dominando até mesmo o púlpito das igrejas históricas. Questionam alguns se o verdadeiro cristão precisa de mensagem de auto ajuda; se precisa ser embalado em sua psique, em sua alma, ao som de novos acordes. A mensagem de auto-ajuda ofuscou a mensagem da cruz. Certas pregações em cultos de algumas Assembleias de Deus não passam de palestras motivacionais que não trazem convicção de pecado, arrependimento e conversões, mas um senso de felicidade, paz e consolação emocional.
O avivamento das décadas de 60-70 entre Batistas, Presbiterianos, Congregacionais, Luteranos e Anglicanos trouxe o povo de volta à palavra de Deus, como todos os avivamentos bíblicos da história o fizeram, no entanto, as denominações se insurgiram contra o mover do Espírito Santo nesses mesmos grupos e abriram terreno para o surgimento das comunidades cristãs e grupos similares. O atual movimento – que não é avivamento – não está levando o povo de volta à palavra, mas ao sensacionalismo, à busca de prazer, à prosperidade e a individualização da fé.  São coisas que devem causar preocupação, pois que afetará as próximas gerações.
A liturgia também foi afetada pela influência dos pregadores televisivos que deixaram o povo exigente quanto a pregações, levando-o a desprezar as mensagens expositivas, difíceis de serem pregadas na televisão pela limitação do tempo, mas tão necessárias para o entendimento da palavra de Deus.
Conseqüentemente ouvem-se sons de uma exacerbação da mística e da fé que passaram a ter preeminência sobre a Palavra de Deus. A busca pela renovação espiritual sem o prumo da palavra de Deus vem levando os crentes a desprezar o ensino da cruz e do sofrimento na vida cristã. Cruz e sofrimento ficaram no passado da igreja, a nova “onda” espiritual é a de amar a prosperidade e o sucesso. Até mesmo pregadores antigos tidos como profetas de Deus aderiram a esta nova mensagem, e ficam horas inteiras levantando dinheiro e tirando ofertas do povo com a mensagem da prosperidade, em que somente prospera o pregador... a ganância de Balaão não tem limites. Os gananciosos são pastores e líderes que convidam pregadores “sapatinhos de fogo”, artistas e jogadores famosos, pois que os pastores também estão afetados pelo espírito de Balaão e querem lucrar com este tipo de ministério...
O Esoterismo evangélico. A falta da palavra de Deus como mensagem expositiva vem levando sutilmente os crentes a viverem um privatismo, o pluralismo e o secularismo como normas da vida cristã. Três temas mui bem dissecados por Os Guines na década dos anos de 1980. O privatismo leva o cristão a viver em torno de si mesmo; o pluralismo leva-o a aceitar elementos de filosofia e a idéia de aceitação de tudo e de todos na igreja; e o secularismo invadiu a teologia com a filosofia e com os conceitos da psicologia moderna na educação e no ensino das crianças e dos adultos.
A ausência da palavra de Deus vem formando uma igreja com comportamento e práticas esotéricas que dá poderes a elementos místicos, em nada se diferenciando do mundo e das religiões místicas ao seu redor. O esoterismo evangélico concede poderes aos óleos “consagrados”, a água e ao sal, ao sabão, fronhas, lençóis e, a criatividade para se ganhar dinheiro não tem parâmetros na história da igreja cristã. A mensagem subliminar é que o poder de Deus se limita a objetos e a práticas do Antigo Testamento.  
A falta de uma exegese bíblica verdadeira permitiu o surgimento de uma igreja com práticas judaizantes, celebração de festas judaicas, a observação de dias e datas especiais dos judeus, roupas, a bandeira de Israel hasteada nos púlpitos, confundindo o natural com o espiritual, e peregrinações a lugares históricos, considerados “santos” em que tais práticas e guardas de datas passaram a ser a essência da fé, o propósito da igreja, acima da própria palavra de Deus. Escrevo sobre isto num capítulo de meu livro A Arte da Guerra Espiritual: Guerra espiritual esotérica. 

Ênfases em modelos e não na vida.

A ênfase em modelos de crescimento fatiou a denominação. Igrejas existem que optaram por seguir o modelo do G-12, outros do M-12, ainda outros do MDA num desespero frenético para conter a estagnação espiritual. Ora, quando se deixa de lado a ação do Espírito Santo, a pregação pura e simples da Palavra de Deus e a prática dos dons espirituais é preciso sair à cata de soluções para manter a igreja crescendo, o dinheiro entrando e o nome. Ah! O nome! Sempre em maior evidência do que o nome do fundador, nosso Senhor Jesus Cristo!
Quando uma igreja se move na ação do Espírito Santo qualquer método de crescimento funciona, porque apenas canaliza o que o Espírito vem realizando; mas, quando se perde a nuvem que vai adiante do povo, a congregação do Senhor fica peregrinando sem rumo no deserto.
Hoje, muitas denominações se perguntam como Isaías: “Ó Senhor, por que nos fazes desviar dos teus caminhos? Volta por amor dos teus servos...” (Is 63.17). E o próprio profeta responde: “Mas eles foram rebeldes e contristaram o seu Espírito Santo, pelo que se tornou em inimigo e ele mesmo pelejou contra eles” (Is 63.10). Deixe-me dizer uma coisa que é muito evidente a todos: O povo está seguindo seu próprio caminho. Os líderes se desviaram e com eles as igrejas que dirigem!
O surgimento de denominações não ortodoxas na doutrina, a que chamamos de neopentecostalismo, dispensa o uso do texto do Novo Testamento, preferindo pregações baseadas em elementos do AT – desprezando o ensinamento apostólico ou o didaskalós das epístolas. O surgimento e o rápido crescimento de denominações neopentecostais-esotéricas, não ortodoxas na doutrina, aliados ao poder de comunicação pela mídia trouxe alguns resultados que poderão ao longo dos anos serem maléficos. A seguir, convido o leitor a analisar comigo alguns desses possíveis malefícios:
1. O primeiro deles é o espírito de competição. Grupos outrora ortodoxos passaram a cultuar e a ter reuniões semelhantes aos grupos neopentecostais, para angariar novos membros. Especialmente as reuniões de libertação, uma marca registrada dos pentecostais clássicos; agora, esses irmãos assimilaram e imitam de maneira grotesca os neopentecostais visando obter maior freqüência, assiduidade dos fieis e mais dinheiro. As antigas reuniões de oração e libertação que serviram de elementos-chave no crescimento da igreja, cederam ante o espírito de competição a esses grupos. As reuniões de libertação em que a ênfase era a oração, a pregação e a novidade de vida cederam lugar ao ensino da prosperidade, da mensagem que leva o pecador a se sentir bem, amado por Deus, podendo viver a fé de forma bem pessoal, sem pressão nem compromisso. 
2. Afrouxamento da disciplina e da doutrina. O segundo resultado maléfico é o afrouxamento do ensino, da sã doutrina apostólica, que deve ser interpretado como ensinamento, estilo de vida, ou o didaskalós, que os apóstolos tanto enfatizavam. Uma vida de ordem na família e na sociedade; um ensinamento sobre o relacionamento do cristão com o mundo ao seu redor. Ética. Caráter. Estilo de vida santo. Surgiu, consequentemente, uma nova safra de cristãos que sequer pode ser comparada aos cristãos da geração passada. A geração de cristãos honestos, comprometidos com a fé, de bons empregados e bons patrões; de famílias ordeiras e de lares disciplinados vem sistematicamente desaparecendo. Em seu lugar surgiu uma geração que vem transmitindo uma péssima imagem do que é ser cristão, de Deus, de Jesus e da Bíblia. Surgiu, em decorrência uma geração de cristãos desacreditada perante a sociedade e autoridades.
Hoje, se uma igreja ousar disciplinar um membro irá parar nas barras da justiça e o membro ofensor encontrará do outro lado da rua um pastor lhe acenando por cargos.
3. Enriquecimento denominacional. O terceiro resultado nada agradável é o que prega a necessidade de enriquecimento denominacional, o enriquecimento entre os membros e a conseqüente construção de templos e prédios grandiosos, frutos de um ensinamento megalomaníaco.
Paralelamente surgiu uma nova classe de evangélicos descomprometidos com a igreja local, afiliados a toda sorte de organizações para-eclesiásticas. Surgiu a vulgarização do evangélico. A igreja parou de ser renovada na essência da vida cristã, entrou num ciclo de romantismo espiritual, de experiências místicas que em nada alterou o estilo de vida dos crentes. Estes passam a falar em línguas, a caírem no chão, a entoarem louvores, mas sem mudança interior de vida. Questão de caso de estudo para os teólogos. A igreja está passando por uma metamorfose negativa, isto é, em que a verdade deu lugar ao sofisma; em que o estilo de vida de caráter não se faz mais necessário como regra e conduta de fé. Desapareceram os cultos de disciplina, conseqüência normal de uma igreja fraca.
4. O surgimento de cristãos de fé plural. Este novo estilo trazido pelos neopentecostais e aceito de braços abertos pelos pentecostais clássicos fez surgir na sociedade uma nova classe de pessoas e de cristãos que, além da falta de compromisso com a igreja na localidade trouxe a idéia de que a igreja é mais uma opção entre as tantas existentes na sociedade quando se quer solução a algum problema da vida. Durante a semana o novo cristão recorre aos cultos das igrejas, tanto quanto busca na mesma semana um centro espírita, uma sessão de umbanda; uma missa católica, a sessão descarrego da Universal ou uma visita a alguma seita oriental.
O resultado é que, somados e multiplicados os malefícios, estes acabarão por formar nos próximos anos uma igreja fraca, sem conteúdo teológico, apesar da multidão de fiéis, insípida e sem a graça divina. Se realmente fossemos tantos assim, o Brasil seria diferente. Talvez sejamos muitos, mas sem sal e sem sabor.
5. A contra-reação dos membros das igrejas.  O neopentecostalismo provocou uma reação contrária em outros segmentos da igreja. Os que buscam em Jesus a essência da fé; os que querem viver o eterno propósito de Deus; os que se envergonham diante de Deus e dos homens da atual situação espiritual da igreja, passaram a abominar tudo o que soa a evangélico, ao que é cristão, formando grupos em busca do fundamentalismo apostólico. São pessoas que não querem se identificar com nenhum grupo evangélico, e dizem não ser evangélicos; desprezam qualquer tipo de liturgia, reúnem-se em qualquer lugar e se fecham em torno de si mesmos e de sua doutrina. São exclusivistas em suas cidades; não participam de eventos ou de celebrações, e receiam e temem tudo o que vem da parte da atual igreja, a que eles chamam de grande Babilônia.
E provocou também uma reação negativa nas pessoas que não são evangélicas. O que ouvem pela mídia e em conversas de vizinhos os remete para longe da fé. Vejo isso com clareza em meus vizinhos com os quais mantenho sadia amizade no bairro onde resido. Todos me conhecem como pastor João. Caminhamos e praticamos esportes juntos e vejo a reação deles quando falam desses grupos neopentecostais.
O lado positivo dos grupos reacionários que querem distância dos grandes conglomerados denominacionais e de denominações neopentecostais é que podem ter dado início à formação de um remanescente fiel a Deus – com ou sem intenção de sê-lo; da extirpação da mentalidade cultural da adoração em templos e grandes auditórios, da vida cristã simples e sem religiosidade exterior, reunindo-se em casas, garagens e praças. A ausência de elementos exteriores – vestimentas, linguagem evangeliquês, clichês próprios de crentes – aliado ao profundo estudo das Escrituras, à vida de retidão, de santidade e de evangelização podem contribuir para o equilíbrio da balança espiritual da igreja. O lado negativo é que tais grupos tendem a não influenciar politicamente um bairro ou a cidade por achar que o “mundo jaz no maligno”, desprezando qualquer compromisso visível com as necessidades da sociedade, por não marcarem sua presença com um local de culto visível, através de templo ou de salão de reuniões no bairro. Isto é, por não terem um local próprio ou alugado para suas reuniões a multidão desses novos crentes, ou discípulos não é conhecida da sociedade.
Deve-se admitir que a presença de um espaço físico reservado para a celebração de cultos e de encontros exerce também grande influência sobre as autoridades e população de uma região. 

Conclusão a esta parte:

A igreja brasileira perdeu seu rumo, está sem Norte, sem direção, por haver desprezado a bússola, que é a palavra de Deus, comprometendo-se com os sistemas políticos, culturais e imorais da nação. As grandes lideranças denominacionais vivem cevando seus títulos honoríficos, participando de esquemas políticos que fariam Paulo, o apóstolo corar de vergonha; outrora chamados por Deus para fazerem a diferença em sua geração, deixaram de participar das reuniões na sala do trono de Deus, quando ouviam do Eterno as diretrizes para a igreja, e passaram a participar de conchavos políticos, carregando consigo, ao lado da Bíblia, o Príncipe de Maquiavel. E, sem perceber seguem os conselhos de Maquiavel, imaginando que o Príncipe tem razão, nas questões políticas. Assim, usam os conselhos de Maquiavel na política e os conselhos da Bíblia na igreja. Coxeiam entre dois pensamentos, e, sem se aperceberem deixaram de freqüentar a sala do Trono do Altíssimo, nosso Senhor e Rei, para se assentarem com aquele que faz oposição a Deus.
Cristãos ou pastores políticos que assim se comportam não se posicionam abertamente em questões como aborto, divórcios, homossexualismo, injustiças sociais etc. por temerem o povo e seus pares. Em Brasília ou nas Assembléias Legislativas de seus Estados, da mesma maneira que faziam na administração de suas igrejas, pensam em si mesmos e no futuro financeiro de suas famílias. 

Neopentecostais: Igreja ou fraude? 

Existem dois tipos de igrejas neopentecostais – igrejas pentecostais novas, este é o sentido aqui. O primeiro grupo abrange grupos que saíram das igrejas históricas nas décadas de 60-70. Fazem parte deste grupo igrejas tradicionais que se pentecostalizaram, e são, em essência compostos de novos pentecostais como os novos Batistas, algumas raríssimas Comunidades Cristãs – porque a maioria das que se chamam Comunidades não passam de pequenas igrejas neopentecostais na doutrina e na prática. No entanto, o termo neopentecostal foi mudando de sentido e sendo compreendido apenas a certos grupos heréticos-esotéricos-endinheirados, todavia, todas as novas igrejas pentecostais, de alguma forma podem ser consideradas neopentecostais, ainda que não tenham a mesma índole massificadora dos que formam o segundo grupo: Universal, Poder de Deus, Show da Fé, Plenitude do P$oder de Deus etc.
As práticas desses novos movimentos, sua liderança e seu sistema de governo indicam um neopentecostalismo doentio que não se encaixam na sã doutrina apostólica.
Sete características de lideranças neopentecostais:
A seguir colhi sete características dessa liderança atual – que não é apenas da liderança neopentecostal, mas também de muitos líderes de igrejas pentecostais históricas.
1. Autoritarismo. Tais líderes advogam a si o direito de ter a palavra final em questões doutrinárias e de práticas cristãs. Creem que podem criar novos padrões de ensinamento e neles atrelar a congregação. Era assim também no passado quando pastores de denominações pentecostais decidiam o que o povo devia usar, o que pensar e em como viver. Felizmente algumas denominações amadureceram e abandonaram tais práticas que vêm sendo adotadas com grande ardor pelos novos líderes pentecostais. As pessoas são orientadas a viverem conforme o pensamento do líder e de maneira a agradá-lo. A “doutrina” ou ensinamento apostólico foi por eles aperfeiçoado, porque tirou do povo o direito à vida e de decidir o que fazer e de como viver. 
2. Dominadores do rebanho. Hoje os apóstolos, bispos, presbíteros e pastores – não importa o título que ostentem – decidem se os membros devem celebrar o Natal, os alimentos que devem comer, as festas que podem participar, os DVDs que devem assistir e quais igrejas ou congregações podem visitar.
Tal autoritarismo não é próprio apenas de igrejas neopentecostais, mas também de alguns que se dizem “igreja” sem nome; comunidades cristãs etc. que mantêm sob regras rígidas o comportamento e o estilo de vida de seus membros, ou discípulos. É possível ver este autoritarismo em várias denominações também. Nunca ouse pensar ou agir de maneira que contrarie seu líder! O líder é o novo paradigma ou modelo de fé a ser seguido, e não os modelos da Bíblia.
3. Ganância financeira e luxúria. A ostentação de riqueza, o ganho fácil e a confortável vida movida a aviões particular, helicópteros e festas não é própria apenas dos neopentecostais, mas também de outros segmentos da igreja – uma dessas igrejas, até bem tradicional, em que seu líder se locomove para a casa da montanha de helicóptero, enquanto exige que seus membros nem televisão possuam!
Enquanto milhares de obreiros residem em casas modestas no meio de sua comunidade, ao nível do povo que pastoreiam, vivendo na simplicidade, buscando o mínimo de conforto, outros se afastam do meio do rebanho e passam a viver em condomínios inacessíveis ao povo. Sua congregação não tem acesso a casa deles – diferentemente de quando nossa casa estava aberta aos irmãos. Essa é a nova cara da liderança eclesiástica da igreja brasileira.
4. Usam o púlpito como arma de ataque. Por trás do carisma que lhes é peculiar tais ministros fazem o que querem com o povo; se justificam, demonstram humildade e santidade e aproveitam para atacar sutilmente os que lhe desobedecem as ordens. Frases como “aconteceu tal coisa porque não ouviu o homem de Deus” é comum ouvir de seus lábios. É a justificação de uma aparente santidade. As pessoas precisam vê-los como homens de Deus, líderes espirituais íntegros; no púlpito diante de seu povo riem, choram, profetizam, pulam, gesticulam e pregam mensagens de prosperidade. Assim, conseguem encobrir do rebanho suas verdadeiras intenções, para que este não se interesse em saber como é a vida deles no seu dia a dia.
E grande parte dos crentes defende o estilo de vida de seus líderes, e se dobra perante eles como faziam os escravos diante de seus senhores.
5. A sacerdotização do ministério. Alguns desses novos líderes criaram a nova casta de “levitas” que são os que cuidam do louvor da igreja, mas criaram também a “família sacerdotal” que é composta do líder e de seus familiares, num atentado grotesco ao verdadeiro sacerdócio de Jesus Cristo. Muitos, ainda que reneguem publicamente tal conceito, ostentam-no no ensino aos seus líderes, isto é, estes são orientados a considerá-los sacerdotes de Cristo a serviço do povo. “Nós somos sacerdotes” de Deus para cuidar do rebanho, dizem, quando biblicamente toda a igreja é povo sacerdotal!
6. Visão terreal do reino de Deus – seu reino particular. A nova liderança dos neopentecostais tem outro foco que não é o reino de Deus futuro, mas o reino deles, agora. Eles têm prazer nas coisas do mundo. Seu império particular e o império de sua denominação ou de suas comunidades constituem o reino deles na terra. Enquanto todos os demais trabalham para a vinda do reino, esses novos líderes creem que estão no reino, e que já são príncipes de Cristo aqui na terra. E para viver como príncipes, formam seu séquito de seguidores que os servem humildemente. Enquanto Jesus apontava para a chegada iminente do reino de Deus, a nova liderança da igreja crê que vive o reino, aqui e agora!
Por isso intrometem-se na política, pensando que por ela governarão na terra e trarão o governo de Cristo aos homens. E, da mesma forma que entram na política e buscam para si títulos políticos, se prostituem com o sistema e podem ser vistos agradecendo a Deus pelas graças recebidas, como no caso dos deputados evangélicos neopentecostais do Distrito Federal. Estes são a pontinha do iceberg, porque existem milhares de pastores vendidos ao mundo e que recebem polpudas somas de dinheiro para transformar sua congregação em curral eleitoral.
7. Acreditam que o juízo dos crentes não é para eles; porque estão acima dos demais. Por isso, perderam o temor de Deus e nem imaginam o que lhes espera no dia do juízo de Cristo, quando todos haveremos de prestar contas. Quando se perde o temor de Deus leva-se uma vida desenfreada de pecado, escondida sob o manto da espiritualidade e da vida piedosa.
Criticam a Balaão, mas vivem como ele, profetizando em nome de Deus, mas de olho nos bens de Balaque – porque são insaciáveis financeiramente. São estes os novos líderes que à semelhança de Coré, Datã e Abirão defendem seu sacerdócio e proclamam que também “têm direitos espirituais”, como nos dias de Moisés. À semelhança de Caim pecam voluntaria e conscientemente, esquecendo que já receberam na testa o sinal de Deus que os manterá sob juízo e condenação.
À luz dessas sete características é possível identificar o tipo de igreja que se frequenta, o tipo de líder que se obedece e decidir se deve seguir o caminho do discipulado cristão ou se fará parte do novo reino dos deuses da terra.
Deus tenha piedade de nós!


sexta-feira, 29 de julho de 2016



Por que não mais choramos por um avivamento?
Texto de Leonard Ravenhill

“Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão” (Sl 126.5).
O verdadeiro homem de Deus é aquele que sente o coração doer, que se incomoda ao ver o mundanismo, a corrupção e a tolerância ao pecado da igreja, bem como a falta de oração do povo de Deus. O homem de Deus se incomoda ao ver que a oração corporativa/congregacional da igreja não mais arrebenta as portas do inferno. Incomoda-se ao ver que os mais antigos membros da igreja não mais choram desesperadamente nem intercedem a favor de uma sociedade que se perde no lamaçal do pecado. “Por que motivo não pudemos nós expulsá-lo?” (Mt 17.19).

Muitos de nós deixamos de sofrer em busca da glória da primeira igreja, porque não sabemos o que significa um verdadeiro avivamento. Ficamos estagnados no “status quo”, dormindo tranquilamente a noite enquanto nossa geração se move lentamente para uma vida eterna no inferno. Uma vergonha para nós!
Jesus expulsou com um relho os cambistas do templo, mas, antes de bater-lhes com o relho chorou pela vida deles. Ele sabia quão próximo estava o juízo de Deus sobre aqueles mercadores. O apóstolo Paulo enviou uma carta molhada com suas lágrimas aos irmãos de Filipos dizendo: “Pois muitos andam entre nós, dos quais, repetidas vezes, eu vos dizia e, agora, vos digo, até chorando, que são inimigos da cruz de Cristo” (Fp 3.18).

Observe que Paulo não afirma que aquelas pessoas eram inimigas de Cristo, ao contrário, ele afirma que elas são inimigas da cruz de Cristo, porque negavam ou menosprezavam o valor redentivo da cruz de Cristo. Existem muitos como esses, que Paulo condena, nas igrejas de hoje. A igreja romana não é contra Cristo, pois enfatiza o santo nome de Cristo, contudo, nega a eficácia da Cruz afirmando que Maria é co-redentora da igreja. Se é assim, por que Maria não foi também crucificada? Os mórmons usam o nome de Cristo, no entanto não aceitam a expiação. Choramos por eles? Será que poderemos ser confrontados por eles no dia do Juízo, sem rubor algum na face ao nos acusarem de não os termos advertidos?

Os irmãos do Exército da Salvação não conseguem parar de chorar quando lêem a história de seu movimento. Será que a glória do avivamento evangélico dos dias de Wesley não mexe com as emoções dos metodistas no dia de hoje? Será que os metodistas não se comovem ao ler sobre o batismo de fogo de Wesley e sua equipe? Homens como John Nelson, Thomas Walsh e muitos outros cujos nomes estão escritos no Livro da Vida; homens que foram perseguidos e apedrejados enquanto pregavam ao ar-livre por terem sido expulsos de seus templos? Contudo, enquanto o sangue escorria de suas feridas, lágrimas pelos perdidos eram derramadas abundantemente. Será que os pentecostais conseguem olhar para trás, com vergonha, (do que são hoje) porque eram perseguidos pelos teólogos que os chamavam de seita só porque criam na eficácia da cruz?

Os pentecostais devem se voltar ao passado e rever a época em que as reuniões normais da igreja incluíam noites e noites de oração seguidas de sinais e maravilhas e diversidade de milagres com o derramamento genuíno dos dons do Espírito Santo! Olhar para a época quando não consultavam o relógio esperando o culto terminar, mas ficavam nos cultos que duravam horas e horas saturados pelo poder do Espírito Santo? Não nos sentimos envergonhados de que nossos filhos nada sabem sobre essas experiências de poder?

Outras denominações tiveram seus dias gloriosos de avivamento. Pense na grande visitação do Espírito Santo aos presbiterianos da Coréia do Sul. Será que esses dias ficaram para trás? Por que não choramos mais por avivamento?
Leonard Ravenhill – fonte:  http://www.sermonindex.net
P.S. Visitem este site. É rico em material para obreiros.



quinta-feira, 30 de junho de 2016

Sermão da Sexagésima do Padre Antônio Vieira


Padre Antônio Vieira

Sermão da Sexagésima

Apresentação:
Este sermão foi pregado na capela real no ano de 1655 logo de seu regresso do Estado do Maranhão. Este grande orador reverbera em seu sermão os desvarios da linguagem dos pregadores de seu tempo e serve de comparação ao estilo fluente e moderno dos dias atuais. O sermão é uma das peças mais vívidas da eloqüência de Vieira e nele pode se ver os traços evidentes da teoria da oratória que na antiguidade resplendia na pregação evangélica.
As comparações e as alegorias que revestem o sermão resumem os exemplos mais clássicos que devem unir a variedade e a unidade de um sermão. Abre este sermão a série de toda gloriosa obra oratória do Padre Vieira, não apenas pela natureza de seu tema, mas porque o próprio Vieira resolveu usar uma linguagem clássica na primeira publicação de seus sermões que ele mesmo revisou.
Nesta publicação atualiza-se o português para uma linguagem mais atual sem perder a essência do discurso.

João A. de Souza Filho 



Sermão da Sexagésima

-1-

Queira Deus que este tão ilustre e tão numeroso auditório saia daqui desenganado da pregação, como vem enganado com o pregador! Ouçamos o evangelho e ouçamo-lo todo, porque esta é razão que me trouxe de tão longe. Eis que o semeador saiu a semear, disse Jesus. O pregador evangélico saiu a semear a palavra divina. O texto não fala apenas do semear, mas também do sair. Saiu, porque no dia da colheita haverão de medir o quanto colhemos e também contarão o eito que colhemos. O mundo não leva em conta o quanto se gasta com sementes nem se preocupa o quanto de terra foi semeado pelo semeador. Deus não é assim. Para quem lavra com Deus até o sair é semear, porque colhe frutos de suas passadas. Entre os semeadores do evangelho existem aqueles que saem a semear, e existem outros que semeiam sem sair. Os que saem a semear são os que vão pregar na Índia, no Japão; os que semeiam sem sair são os que se contentam em pregar em sua pátria. Todos terão sua razão, mas, tudo tem seu preço. Aos que têm a seara em casa, receberão pela semeadura; os que vão buscar a seara tão longe, sua semeadura será medida e seus passos contados. Ah! Dia do juízo! Ah! Pregadores! Os daqui serão achados com mais paço; os de lá, [1] com mais passos: Saiu a semear.

Mas, daqui mesmo vejo que vocês notam – e me notam – que o Cristo disse que o semeador do evangelho saiu; porém, não diz que retornou, porque os pregadores evangélicos, os homens que professam pregar e propagar a fé costumam sair, mas nem sempre retornam. Aqueles animais do livro de Ezequiel que estavam no carro triunfal da glória de Deus, e significavam os pregadores do evangelho, que propriedades possuíam? Nec revertebantur cum ambularent, [2] “não se viravam quando iam”. Uma vez que iam não retornavam! Eram governados pelas rédeas do ímpeto do Espírito, como diz o texto. Esse Espírito tinha impulsos para os levar, não havia regresso para os trazer, porque, quem sai para regressar melhor será não sair. Assim, argúis com plena razão, e eu também assim o digo. Mas, pergunto: E se esse semeador evangélico quando saiu, encontrasse o campo tomado; e se armassem contra ele os espinhos; e contra ele se levantassem as pedras e se lhe fechasse o caminho, o que poderia ele fazer?
  
Esses obstáculos de que falo e todas essas contradições experimentaram-no o semeador do nosso evangelho. Cristo disse que ele começou a semear, mas com pouca ventura (sorte). Uma parte do trigo caiu entre os espinhos, e estes o afogaram. Outra parte caiu sobre as pedras, e secou-se nas pedras por falta de umidade. Outra parte caiu no caminho, e pisaram-no os homens e comeram-no os pássaros. Ora, veja como todas as criaturas do mundo se armaram contra esta sementeira. Todas as criaturas existentes no mundo resumem-se a quatro gêneros: As criaturas racionais, como os homens; criaturas sensitivas, como os animais; criaturas vegetais, como as plantas e criaturas insensíveis, como as pedras. Somente estas! Faltou mais alguma que se armasse contra o semeador? Nenhuma!

A natureza insensível o perseguiu nas pedras; os vegetais, nos espinhos; a sensitiva nas aves; a racional, nos homens. Observe a desgraça do trigo, que onde esperava encontrar razão, maior agravo encontrou. As pedras secaram-no, os espinhos o afogaram; as aves o comeram, e os homens? Pisaram-no! Quando Cristo enviou seus apóstolos a pregar pelo mundo, disse-lhes assim: “Vão pelo mundo inteiro e anunciem o evangelho a todas as pessoas”. [3] Preguem a todas as criaturas. Como assim, Senhor? Os animais não são criaturas? As árvores não são criaturas? As pedras não são criaturas? Quer dizer que os apóstolos pregarão também às pedras? Pregarão aos troncos? Pregarão aos animais? Sim, diz São Gregório, depois de Santo Agostinho. Porque como os apóstolos saíam a pregar a todas as nações do mundo, muitas delas bárbaras e incultas, encontrariam homens degenerados em todas as espécies de criaturas: Haveriam de achar homens, homens; encontrariam homens brutos; enfrentariam homens truculentos; e haveriam de achar homens como pedras. E quando os pregadores evangélicos saem a pregar a toda criatura, todas se armam contra ele. Grande desgraça!

No entanto, a desgraça do semeador do nosso evangelho não foi a maior. A maior é a que se tem experimentado na seara para onde fui e de onde venho. Tudo o que aqui padeceu o trigo, lá padeceram os semeadores. Se puderem entender, aqui tem trigo mirrado, trigo mocho, trigo bichado, trigo comigo e trigo pisado. Tudo isso padeceram os semeadores evangélicos na missão de semear no Maranhão. Houve missionários afogados, porque uns se afogaram na grande boca do grande rio das Amazonas; houve missionários comidos, porque foram devorados pelos canibais na ilha dos Aroans; houve missionários mirrados, porque os tais voltaram da jornada do Tocantins, mirrados pela fome e pela doença, onde houve um caso em que, perdidos vinte e dois dias nas brenhas mitigava sua sede com o orvalho que lambia das folhas. E que dizer se, depois de mirrados, afogados e devorados sejam ainda pisados e perseguidos pelos homens? Não me queixo, nem o digo, Senhor, pelos semeadores; só pela seara o digo e pela seara o sinto. Para os semeadores isso são glórias; mirrados, sim, mas, por amor de vocês mirrados; afogados, sim, mas por amor de vocês, afogados; comidos, sim, mas por amor de vocês, comidos. Pisados e perseguidos, sim, mas por amor de vocês perseguidos e pisados.

Retorno agora à minha primeira pergunta: E que faria neste caso ou o que o semeador evangélico devia fazer depois de fracassarem seus primeiros trabalhos? Deixaria a lavoura? Desistiria da sementeira? Deixar-se-ia ficar ocioso no campo só porque lá se encontra? Parece que não! Mas, caso retornasse pra casa a fim de buscar alguns instrumentos para limpar a terra das pedras e dos espinhos seria isto desistir? Seria isto tornar atrás? Certo que não. No mesmo texto de Ezequiel temos a prova. Já vimos, como dizia os textos que aqueles animais da carruagem de Deus, quando iam não voltavam: “não se viravam quando iam”. Leiam dois versículos adiante e vejam o que diz o mesmo texto, que aqueles animais tornavam à semelhança de um raio ou de um corisco: Ibant, et revertebantur in similitudinem fulguris coruscantis ou “as criaturas viventes corriam e voltavam como a aparência de um raio” [4] Pois se os animais iam e tornavam à semelhança de um raio; como diz o texto que, quando iam não retornavam? Porque quem vai e torna como um raio, não torna. Ir e voltar como um raio não é tornar, mas ir adiante. Assim o fez o semeador de nosso evangelho. Não ficou desanimado nem pela primeira, pela segunda ou pela terceira perda; continuou adiante a semear, e foi com tanta felicidade, que nesta quarta e última parte do trigo se restauraram com vantagem as perdas dos demais: Nasceu, cresceu, espigou, amadureceu, colheu, mediu e achou-se que por um grão cem deles multiplicaram. Et fecit fructum centuplum, isto é, “e deu fruto: a cem...”.

Oh! Que grandes esperanças me dá esta sementeira! Veja que grande exemplo nos dá este semeador! Dá-me grandes esperanças a sementeira, porque ainda que se perderam os primeiros trabalhos, os últimos darão lucro! Dá-me grande exemplo o semeador, porque depois de perder a primeira, a segunda e a terceira parte do trigo aproveitou a quarta e última, e colheu dela muito fruto. Já que se perderam as três partes da vida, pois uma parte da idade a levaram os espinhos; outra parte levaram as pedras e outra parte levaram os caminhos, e tantos caminhos, esta quarta e última parte, este último quartel da vida, por que se perderia também? Por que não dará fruto? Por que não terão os anos o que tem o ano? O ano tem tempo para as flores e tempo para os frutos. Por que não terá também a vida o seu outono? Umas flores caem, outras murcham, outras se secam e outras o vento as leva. Aquelas poucas que se pegam ao tronco e se transformam em frutos, só essas são as venturosas; só essas são as discretas, só essas são as que duram, somente essas é que se aproveitam; só essas as que sustentam o mundo. Será que o mundo morrerá de fome? Será que os últimos dias serão sem flores? Não é bom, nem Deus quer que assim seja, nem haverá de ser. Por isso disse no começo que vocês vieram enganados quanto ao pregador, e para que vocês saiam desenganados com o sermão trarei nele uma matéria de grande peso e importância. Servirá como prólogo aos sermões que lhes hei de pregar e a todos os que me ouvirem durante a quaresma.

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Semen est Verbum Dei

O trigo que o pregador evangélico semeou, disse Jesus, é a palavra de Deus. Os espinhos, as pedras, o caminho e a boa terra em que o trigo caiu são os diversos corações humanos. Os espinhos são os corações embaraçados com cuidados, riquezas, com delícias, e nestes afoga-se a palavra de Deus. As pedras são os corações duros e obstinados, e nestes seca-se a palavra de Deus, e caso germine, não cria raízes. Os caminhos são os corações inquietos e perturbados com o desfile e com o tropel das coisas do mundo; umas que vão e outras que vêm, outras que atravessam, mas todas passam. E nestes é pisada a palavra de Deus, porque ou a ignoram ou a desprezam. Finalmente, a terra boa são os corações bons, ou os homens de bom coração, e nestes a palavra divina se prende e frutifica com tanta fecundidade e abundância que se colhe a cento por um: Er fructum fecit centumplum.

Este frutificar grandioso da palavra de Deus chama minha atenção, às vezes em forma de dúvida ou de admiração que me deixa em suspense e confuso depois que subo ao púlpito. Se a palavra de Deus é tão eficaz e poderosa, como se vê tão pouco fruto da palavra de Deus? Ora, o próprio Cristo afirmou que a palavra de Deus frutifica a cem por um e eu ficaria satisfeito se frutificasse um por cento. Se com cada cem sermões se convertesse uma pessoa e emendasse seu caminho, o mundo seria santo. Este argumento de fé, fundado na autoridade de Cristo, pode ser visto na experiência comparando-se os tempos passados com os presentes. Leiam as histórias eclesiásticas e verão que estão repletas de admiráveis resultados da pregação da palavra de Deus. Tantos pecadores convertidos, tanta mudança de vida, tanta mudança nos costumes em que os grandes desprezando as riquezas e as vaidades do mundo e os reis renunciando seus cetros e suas coroas; os jovens e as pessoas gentis metendo-se pelos desertos e pelas cavernas. E hoje? Nada disto. Nunca na igreja de Deus ouve tantos pregadores e tantas pregações como nos dias de hoje. Pois, se tanto se semeia a palavra de Deus, por que se colhe tão pouco fruto? Não há um homem que ao ouvir um sermão caia em si e resolva mudar de vida; não há um moço que se arrependa; um velho que mude de ideia. O que é isto? Assim como Deus não é hoje menos Onipotente, assim a sua palavra não é hoje menos poderosa do que dantes era. Pois se a palavra de Deus é tão poderosa; se a palavra de Deus tem hoje tantos pregadores, por que não vemos hoje nenhum fruto da palavra? Esta tão grande e tão importante dúvida será a matéria do sermão.

Quero começar pregando pra mim mesmo. Prego pra mim e também pra vocês. Prego pra mim para aprender a pregar, e a vocês para que aprendam a ouvir.

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O fato de que a palavra de Deus quase não frutifica nos dias de hoje deve ser por causa de três princípios importantes: A parte do pregador, a parte do ouvinte e a parte de Deus. Resumindo: O pregador, o ouvinte e Deus. Para que uma pessoa se converta por meio de um sermão três coisas devem acontecer: O pregador deve contribuir expondo a doutrina, persuadindo. O ouvinte deve entrar com seu entendimento, percebendo; e Deus com sua graça, iluminando. Para um homem se ver a si mesmo são necessárias três coisas: Olhos, espelho e luz. Se tiver espelho e é cego, não pode se ver por falta de olhos; se tem espelho e olhos, mas é noite, não pode se ver pela falta de luz, logo é necessário haver luz, espelho e olhos. Que maravilha quando a alma pode conversar consigo mesma e se ver dentro do homem? Para que o homem se veja são necessários olhos, luz e espelho. O pregador concorre com o espelho, que é a doutrina; Deus concorre com a luz, que é a graça; o homem concorre com os olhos, que é o conhecimento. Ora, supondo que a conversão da alma por meio da pregação dependa desses três elementos, de Deus, do pregador e do ouvinte, qual deles ainda falta? Por parte do ouvinte, do pregador ou da parte de Deus?

Primeiramente, por parte de Deus não falta nem pode faltar. Esta é uma proposição de fé, definida no Concílio Tridentino, e no nosso evangelho a temos. Do trigo que o semeador lançou na terra, uma parte frutificou e outras três se perderam. E por que três partes se perderam? A primeira se perdeu porque a sufocaram os espinhos; a segunda, porque a secaram as pedras; a terceira porque a pisaram os homens e a comeram as aves. Isto é o que Cristo falou, mas notem o que ele não disse. Ele não falou que parte alguma daquele trigo se perdesse por causa do sol ou da chuva. A causa porque ordinariamente se perdem as sementeiras é pela desigualdade e pela intemperança do clima, ou porque tem pouca chuva ou chove demais, ou porque falta o sol ou tem sol demais. Pois, por que Cristo não colocou na parábola do evangelho algum trigo que se perdesse por causa do sol ou da chuva? Porque o sol e a chuva são as influências da parte do céu, e deixar de frutificar a semente da palavra de Deus, nunca é por falta do céu, mas por culpa nossa. Deixará de frutificar a sementeira, ou pelo embaraço dos espinhos, ou pela dureza das pedras ou pelos descaminhos dos caminhos, mas, por falta das influências do céu, isso nunca é nem pode ser. Da parte de Deus ele sempre está pronto, com o sol para aquecer e com a chuva para regar; com o sol para alumiar e com a chuva para amolecer, se os nossos corações assim o quiserem. Qui solem suum oriri facit super bonos et malos et pluit super iustos et iniustos [5] Se Deus dá o seu sol e a sua chuva aos bons e aos maus; aos maus que se quiserem fazer bons, como a negará? Este ponto está tão claro que não se precisa de mais provas. “Que havia ainda a fazer à minha vinha, que eu não lhe tenha feito?” (Is 5.4), disse o mesmo Deus através de Isaías.

Sendo, pois, certo que a palavra divina não deixa de frutificar por parte de Deus, segue-se que, ou é por falha do pregador ou por falha do ouvinte. Por qual será? Os pregadores colocam a culpa nos ouvintes, mas não é assim. Se fosse por parte dos ouvintes, a palavra de Deus não daria muito fruto, mas não ter nenhum fruto ou nenhum efeito mão é por parte dos ouvintes. Provo. Os ouvintes, ou são maus ou bons. Se forem bons, a palavra de Deus neles frutifica. Se forem maus, ainda que não frutifiquem tem lá seus efeitos. No evangelho os temos. O trigo que caiu nos espinhos nasceu, mas os espinhos afogaram-no. O trigo que caiu nas pedras, também nasceu, mas secou-se. O trigo que caiu em boa terra nasceu e deu frutos com grande multiplicação. Et natum fecit fructum centuplum. De maneira que o trigo que caiu na boa terra nasceu e frutificou; o trigo que caiu em terra ruim nasceu, mas não deu frutos, porque a palavra de Deus é tão fecunda que nos bons faz muito fruto e é tão eficaz, que nos maus, ainda que não faça fruto, tem lá seus efeitos. Lançada nos espinhos não frutificou, mas até entre os espinhos nasceu. Lançada nas pedras não frutificou, mas no meio das pedras nasceu.

Os piores ouvintes que existem na igreja de Deus são as pedras e os espinhos. E por que? Os espinhos por agudos; as pedras por serem duras. Ouvintes de entendimentos agudos e ouvintes de vontades endurecidas são os piores que existem. Os ouvintes de entendimentos agudos são maus ouvintes, porque vem só para ouvir sutilezas, esperando galanterias, querendo avaliar os pensamentos, e às vezes também a machucar a quem não machuca. O trigo não picou os espinhos, antes os espinhos se espetaram nele. E o mesmo sucede aqui: Vocês acham que o sermão os feriu, mas não é assim. Vocês são os que ferem o sermão. Por isso são maus ouvintes e de entendimentos agudos. Mas, os de vontade endurecida são ainda piores, porque um entendimento agudo pode ser picado pelos mesmos espinhos, e pode-se vencer um argumento com outro maior. Mas, contra vontades endurecidas para nada aproveita a agudeza, antes lhe causam maior dano, porque quando as setas são mais pontudas, com mais facilidade tocam na pedra. Oh! Deus nos livre de vontades endurecidas, que são ainda piores que as pedras. A vara de Moisés abrandou as pedras, mas não pôde abrandar uma vontade endurecida. “Moisés levantou a mão e feriu a rocha duas vezes com o seu bordão, e saíram muitas águas” (Nm 20.11). Unduratum est cor Pharaonis. “Todavia, o coração de Faraó se endureceu” (Ex 7.13).

E como os ouvintes de entendimentos agudos, e os ouvintes de vontades endurecidas são os mais rebeldes, a força da divina da palavra é tão grande, que apesar da agudeza nasce nos espinhos, e apesar da dureza nasce nas pedras. Poderíamos argumentar ao lavrador do Evangelho de não cortar os espinhos e de não arrancar as pedras antes de semear, mas propositadamente deixou no campo as pedras e os espinhos para que vissem a força da semente que semeava. É tanta a força da divina palavra, que sem cortar nem despontar espinhos, nasce entre espinhos. É tanta a força da divina palavra, que sem arrancar nem abrandar as pedras, nasce nas pedras. Corações embaçados como espinhos, corações secos e duros como pedras ouçam a palavra de Deus e confiem nele. Tomemos os exemplos dessas mesmas pedras e nesses espinhos. Esses espinhos e essas pedras agora resistem ao semeador do céu, mas virá tempo quando essas mesmas pedras o aclamarão e esses mesmos espinhos o coroarão. “tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha na cabeça” (Mt 27.29).

Quando o semeador do céu deixou o campo, saindo deste mundo, as pedras se quebraram para o aclamar, e os espinhos foram tecidos para lhe fazer uma coroa. E, se a palavra de Deus até nas pedras e nos espinhos nasce, o não triunfo nos alvedrios, [6] hoje, da palavra de Deus e o fato de não nascer nos corações, não é culpa nem indisposição dos ouvintes.
   
Depois de apresentar essas duas suposições, de que os frutos e efeitos da palavra de Deus não permanecem, nem da parte de Deus, nem por parte dos ouvintes, segue-se, por conseqüência clara que deverá frutificar por parte do pregador. E assim é. Vocês sabem, irmãos, por que a palavra de Deus não frutifica? Por culpa dos pregadores. Pregadores, vocês sabem por que a palavra de Deus não frutifica. Por nossa culpa.
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E, como num pregador existem tantas possibilidades, e em uma pregação tantas leis, e os pregadores podem ser culpados em todas, em qual consistirá esta culpa? No pregador podem-se considerar cinco circunstâncias: A pessoa, a sabedoria, a matéria, o estilo e a voz. A pessoa que é, a sabedoria que tem, a matéria que trata, o estilo que segue e a voz com que fala. Todas estas circunstâncias podem ser vistas no evangelho. Examinemo-las uma por uma buscando esta causa.

Será que a palavra não frutifica nos dias de hoje por culpa da pessoa que prega? Será por que antigamente os pregadores eram santos, varões apostólicos e exemplares, e hoje os pregadores sou eu e outros como eu? Esta é uma boa razão. O que define um pregador são a vida e o exemplo. Entre o semeador e o que semeia existe muita diferença: Uma coisa é o governador e outra é o que governa. De igual maneira, uma coisa é o semeador e outra o que semeia. Uma coisa é o pregador e outra, o que prega. O semeador e o pregador são títulos; o que semeia e o que prega é ação. E as ações é que ditam quem é o pregador. Ter nome de pregador ou ser pregador de nome para nada importa. As ações, a vida, o exemplo, as obras são as que convertem o mundo. Qual o melhor conceito que o pregador leva ao púlpito? É o conceito que os ouvintes têm da vida dele. Antigamente o mundo se convertia, hoje por que não se converte ninguém? Porque hoje pregam-se palavras e pensamentos, antigamente pregavam-se palavras e obras. Palavras sem balas são tiros sem bala. Produzem estrondos, mas não ferem. A funda de Davi derribou o gigante, mas não o derribou com o barulho que fez, mas com a pedra. As vozes da harpa de Davi expulsavam os demônios do corpo de Saul, mas não eram vozes pronunciadas com a boca; eram vozes formadas com a mão: [7] Por isso Cristo comparou o pregador ao semeador. O pregar, que é falar, faz-se com a boca; o pregar, que é semear faz-se com a mão. Para falar ao vento bastam palavras; para falar ao coração são necessárias obras. O evangelho afirma que a palavra de Deus deu frutos a cem por um. Que quer isto dizer? Quer dizer que de uma palavra nasceram cem palavras? Não. Quer dizer que de poucas palavras nasceram muitas obras. Palavras que frutificam obras não podem ser apenas palavras. Deus queria converter o mundo. E o que fez? Mandou ao mundo seu Filho em forma humana. Notem: O Filho de Deus enquanto Deus e homem é também a palavra e obra de Deus operando em ambos. Verbum caro factum est. [8] De maneira que Deus não se fiou em que sua palavra ficasse desacompanhada de obras para a conversão dos homens. Na união da palavra de Deus com a maior obra de Deus é que consiste a salvação da humanidade. Verbo Divino é palavra divina; mas, importa pouco que nossas palavras sejam divinas se forem desacompanhadas de exemplos. A razão disto é porque as palavras são ouvidas, mas as obras vistas. As palavras entram pelos ouvidos, as obras entram pelos olhos, e a nossa alma rende-se muito mais aos olhos do que aos ouvidos. No céu, ninguém há que não ame a Deus ou deixe de amá-lo. Na terra há tão poucos que o amem; todos o ofendem. Deus não é o mesmo e tão digno de ser amado no céu como na terra? Pois como no céu todos se veem obrigados a amá-lo e na terra não? A razão é, porque Deus no céu é Deus visto; Deus na terra é Deus ouvido. No céu o conhecimento de Deus entra na alma pelos olhos: Videbimus cum sicut este. [9] Na terra entra-lhe o conhecimento de Deus pelos ouvidos, Fides ex auditu [10] e o que entra pelos ouvidos é crido, o que entra pelos olhos tem de ser visto. Se os ouvintes vissem em nós o que ouvem, o abalo e os efeitos do sermão seriam diferentes.

Um pregador decide pregar ilustrando a paixão e chega ao pretório de Pilatos; relata como fizeram de Cristo um rei de zombaria; diz que tomaram vestes cor de púrpura e a colocaram em seus ombros. O auditório o ouve atento. Afirma, depois, que teceram uma coroa de espinhos e puseram-na na cabeça de Cristo e todos o ouvem com a mesma atenção. Diz mais que suas mãos foram amarradas e entrelaçaram nelas uma cana como cetro; a expectativa e o silêncio dos ouvintes são visíveis. Neste exato momento abrem-se as cortinas e aparece a imagem do Ecce Homo, eis todos prostrados em terra; todos a bater no peito. Eis as lágrimas. Eis os gritos, os alaridos, eis as bofetadas. Que é isso? Que reapareceu de novo nesta igreja? Tudo o que as pessoas viram ao descerrar as cortinas o pregador havia dito. Já falar do manto cor de púrpura, da coroa de espinhos e da cana que segurava feito um cetro. Pois, se enquanto falava o auditório não foi motivado, o que aconteceu agora? Porque antes do Cristo falava; mas, agora ao Cristo veem. A descrição do pregador entrava-lhes pelos ouvidos, a representação daquela figura entrou-lhes pelos olhos.

Pregadores, sabem por que nossos sermões não mexem com as pessoas? Porque não pregamos aos olhos; pregamos aos ouvidos. Por que João, o Batista convertia tantos pecadores? Porque assim como suas palavras pregavam aos ouvidos, o seu exemplo pregava aos olhos. As palavras do Batista pregavam arrependimento, porque as pessoas se arrependem e o exemplo de João Batista falava alto. Ele dizia: Ecce Homo: eis aqui está o homem que é o retrato da penitência e da aspereza. As palavras de João Batista pregavam jejum e repreendia os abusos e a gula, e o exemplo clamava: Eis o Homem. Eis aqui está o homem que se alimenta de gafanhotos e mel silvestre. As palavras de João pregavam modéstia e condenavam a ostentação e a soberba e a vaidade. Eis aqui o homem vestido com peles de camelo presas com cordas e envolto em panos de cilício na raiz da carne.

As palavras de João pregavam o desapego e o abandono do mundo e apelavam para que os homens fugissem da maldade. E o exemplo clamava: Eis o homem! Eis aqui o homem que deixou a corte e as cidades e vive no deserto em alguma cova. Se os ouvintes ouvem uma coisa e veem outra, como se converterão? Jacó colocava as varas listradas diante das ovelhas quando concebiam, e depois os cordeiros nasciam listrados. “E concebia o rebanho diante das varas, e as ovelhas davam crias listadas, salpicadas e malhadas”. [11] Se quando os ouvintes percebem os nossos conceitos e têm diante dos seus olhos as nossas manchas, como conceberão virtudes? Se a minha vida é apologia contra a minha doutrina, se as minhas palavras vão já refutadas nas minhas obras, se uma coisa é o semeador e outra, o que semeia, como se obterá o fruto?
Muito boa e muito forte razão havia para que a palavra de Deus não frutificasse, e tem contra si o exemplo e experiência de Jonas. Fugitivo de Deus, em desobediência, contumaz, e, ainda, depois de engolido e vomitado, iracundo, impaciente, pouco caritativo, pouco misericordioso e mais zeloso e amigo de sua autoestima do que da honra a Deus e salvação das almas, Jonas, desejoso de ver Nínive destruída diante de seus olhos havendo ali tantos inocentes, contudo, este mesmo homem com um sermão converteu o maior rei, a maior corte, e o maior reino do mundo, e não de homens fieis, mas de gentios idólatras. Portanto, deve ser outra a causa que buscamos. Qual será?

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Estilo. Será, porventura, o estilo que hoje se usa nos púlpitos? Um estilo tão embaralhado, um estilo tão dificultoso, um estilo tão afetado, um estilo tão encontrado em toda arte e em toda a natureza? Boa razão é esta. O estilo deve ser fácil e natural. Por isso Cristo comparou o pregar ao semear. Exiit qui seminat, seminare. Cristo compara o pregar ao semear; porque semear é uma arte que tem mais de natureza que de arte. Nas outras artes tudo é arte; na música tudo se faz por compasso, na arquitetura tudo se faz por regras; na aritmética emprega-se a conta, na geometria tudo se faz por medida. O semear não é assim. É uma arte sem arte; caia onde cair. Vejam como semeava o lavrador de nosso evangelho. Caía o trigo nos espinhos e nascia; caía o trigo nas pedras e nascia; caía o trigo na boa terra e nascia. O trigo ia caindo e nascendo.

Assim será o pregar. Hão de cair as coisas e hão de nascer. Tão naturais que vão caindo e logo começam a nascer. Que diferente é o estilo violento e tirânico que se usa hoje? Uns vêm acarretados, outros arrastados, outros vêm estirados, torcidos, despedaçados, só os atados não vêm! Existe, de fato, tal tirania? Então, no meio dessa argumentação é que se comprova o que foi dito. A questão não é o levantar, mas o cair. Notem uma alegoria própria de nosso idioma: O trigo do semeador ainda que caiu quatro vezes, só três vezes nasceu! Para que o sermão nasça, há de existir três maneiras de cair: Cairá com a queda, cairá com cadência e cairá pela circunstância (N. T. Vieira usa a palavra caso). A queda é para as coisas; a circunstância para a disposição. A queda é para as coisas porque hão de ser colocadas em seu lugar; há de ter queda: A cadência é para as palavras, porque estas não podem ser escabrosas nem dissonantes; precisam de cadência: A circunstância é para a disposição, porque há de ser tão natural e tão simples que pareça caso e não estudo.

Já que falo contra os estilos modernos quero trazer à lume o estilo do mais antigo pregador que houve no mundo. E quem foi ele? O mais antigo pregador do mundo foi o céu! Caeli enarrant gloriam Dei et opera manuum eius adnuntiat firmamentum  disse Davi. [12] Supondo que o céu seja o pregador deve estar cheio de sermões e de palavras. Sim, o céu, diz o mesmo Davi, tem palavras e tem sermões, e muito bem ouvidos. Non sunt loquellae neque sermones quorum non audiantur voces eorum [13] E quais são estes sermões e estas palavras do céu? As palavras são as estrelas, os sermões são a composição, a ordem, a harmonia e o curso delas no céu. Veja como o estilo de pregar no céu assemelha-se ao estilo que Cristo ensinou na terra! Um e outro é semear. A terra semeada de trigo e o céu semeado de estrelas. O pregador deve ser como quem semeia e não como quem ladrilha ou azuleja. Ordenado, mas como as estrelas. Stellae manentes in ordine et cursu suo. [14]

Todas as estrelas estão afixadas em ordem, mas é ordem que influencia e não uma ordem que faça você labutar. Não fez Deus o céu em xadrez de estrelas, como os pregadores fazem seus sermões em xadrez de palavras. Se de uma parte está branco, da outra haverá de estar negro. Se de uma parte está dia, da outra parte estará noite. Se numa parte dizem, luz; na outra dirão, sobra. Se de uma parte dizem “desceu”, da outra dirão subiu. Basta que não vejamos num sermão duas palavras em paz? Todas estarão fronteiriças ao seu contrário. Aprendamos do céu o estilo da disposição, e também o das palavras. E como serão as palavras? Como as estrelas. As estrelas são mui distintas e claras. Assim será o estilo da pregação, muito distinto e muito claro. E nem por isso imagina-se que o estilo seja baixo, porque as estrelas além de serem diferentes são brilhantes e altíssimas. O estilo pode ser muito claro e muito alto; tão claro que o entendam os que nada sabem, e tão alto que tenham muito que aprender nele os que sabem. O camponês encontra nas estrelas as informações de que precisa para sua lavoura e o navegador para sua navegação; o matemático para as suas observações e para seus cálculos. De maneira que o lavrador e o mareante que não sabem escrever nem ler, entendam as estrelas, e o matemático que tem lido quantos escreveram não alcança a entender quanto nelas há. Tal pode ser o sermão: Estrelas que todos veem e muito poucos as medem.

Sim, padre! Porém, esse estilo de pregar não é pregar culto, mas e que fosse! Este desventurado estilo que hoje se usa, os que o querem honrar chamam-lhe culto, os que o condenam chamam-no escuro, mas ainda lhe fazem muita honra. O estilo culto não é escuro, mas negro, e negro boçal, cerrado. É possível que sendo portugueses ouçamos um pregador falar em português e não o entendamos? Assim como existe léxico para o grego e o calepino [15] para o latim, assim é necessário haver um vocabulário do púlpito. Eu, ao menos o tomara para os nomes próprios, porque os cultos têm desbatizados os santos, e cada autor que alegam é um enigma. Assim o disse o Cetro Penitente, assim disse o evangelista Apeles, assim falou também o Águia da África (Agostinho), o favor de Claraval, a púrpura de Belém, a Boca de Ouro. Existem jeitos de mencionar pessoas. O Cetro Penitente dizem ser Davi, como se todos os cetros não fossem penitentes. O evangelista Apeles dizem ser Lucas, também conhecido como médico; o Favo de Claraval é são Bernardo; a Águia da África, Santo Agostinho; a Púrpura de Belém, São Jerônimo; São Crisóstomo a Boca de Ouro. E quem contraria se alguém dissesse que a Púrpura de Belém é Herodes, que a Águia da África é Cornélio Cipião e que a Boca de Ouro é Midas? Se houvesse um advogado que alegasse assim a Bartolo e Baldo vocês confiariam na argumentação dele? Se houvesse um homem que falasse assim na congregação vocês não o tomariam por ignorante? Pois o que na conversão seria néscio como há de ser a descrição do púlpito?

Esta razão me parece boa. Mas, como os cultos, pelo polido e estudado se defendem como o grande Nazareno, com Ambrósio, com Crisólogo, com Leão, e, pelo escuro e duro com Clemente Alexandrino, com Tertuliano, com Basílio de Selêucia, com Zeno veronense, e outros, não podemos negar reverência a tamanhos autores, posto que desejassem nos que prezam de beber nesses rios, a sua profundidade. Qual será logo a causa de nossa queixa?  

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Seria pelo tipo de matéria que os pregadores usam? Hoje se usa o método de apostilar o evangelho em que se usam muitas matérias, levantam-se muitos assuntos, e quem levanta muita caça e não segue nenhuma, não recolherá coisa alguma; estará sempre com as mãos vazias. Esta é uma boa razão. O sermão há de ter um só assunto e uma só matéria. Por isso, Cristo afirmou que o lavrador do evangelho não saiu semeando muitos tipos de sementes, senão uma só. Exiit, qui seminat, seminare semen. Semeou uma só semente, e não muitas, porque o sermão terá apenas um assunto, e não muitos.  Se o lavrador semeasse primeiramente o trigo e sobre este semeasse centeio e sobre o centeio semeasse milho graúdo e miúdo, e sobre o milho semeasse cevada, o que haveria de nascer? Uma mata brava, um monte de verde! Assim também acontece com os sermões desse gênero: Por semearem tanta variedade não podem colher variedade alguma. Quem semeia misturas, mal consegue colher o trigo. Se uma nau girasse o timão para o norte, depois pro sul e ainda pro leste, como empreenderia sua viagem? Por isso nos púlpitos se trabalha tanto, e se navega tão pouco. Um assunto se dispersa como o vento, outro assunto vai para outro vento. O que se colherá, senão vento?

João Batista convertia muita gente na Judéia, mas quantos assuntos pregava? Apenas um: Parate iam Domini, [16] A preparação para o reino de Cristo. Jonas converteu os ninivitas, mas de quantos temas falou? Um só tema: Adhue quadraginta dies, et Ninive subertetur: [17]A destruição da cidade. De maneira que Jonas durante quarenta dias pregou um só assunto, e nós queremos pregar quarenta assuntos em uma hora? Por isso não pregamos nenhum assunto. O sermão será de uma só cor, apresentando apenas um tema, um só assunto, uma só matéria.

O pregador deve se deter num só tema, e tem de defini-lo para que todos o conheçam; deve dividi-lo para que o distingam, deve prová-lo com as Escrituras, declará-lo com a razão, confirmá-lo com o exemplo, amplificá-lo com as causas, com os resultados, com as circunstâncias, com as conveniências que se seguirão;  responderá as dúvidas, satisfará as dificuldades, o pregador terá que refutar com toda a força da eloqüência os argumentos contrários, e depois disto colherá, ajuntará, concluirá, persuadirá e há de acabar. Isto é sermão, isto é pregar, e o que não é isto senão falar com que é mais elevado? Não nego nem quero afirmar que o sermão não tenha variedade em seu discurso, mas a variedade deverá surgir da própria matéria, continuar e terminar com ela. Querem ver tudo isto com os olhos?

Ora, vejam! Uma árvore tem raízes, troncos, ramos, folhas, varas flores e frutos. Assim deve ser o sermão: Deve ter raízes fortes e sólidas, porque deve tratar de um só assunto e de uma só matéria. Deste tronco nascerão diversos ramos, que são diversos discursos, todos nascidos da mesma matéria, mas apegados a ela. Esses ramos não hão de ser secos, senão cobertos de folhas, porque os discursos deverão ser vestidos e ornados de palavras. A árvore tem varas, que são a repreensão do vício; há de ter flores, que são as sentenças e para que arremate de tudo, as varas darão frutos e este fruto é o que se busca no sermão. De maneira que há de se ter frutos, flores, varas, folhas, ramos, mas tudo provêm de um só tronco que é uma só matéria. Se tudo for tronco deixa de ser sermão para ser madeira. Se tudo fossem ramos não é sermão, mas gravetos. Se tudo forem folhas, não será sermão, mas folhagem. Se tudo forem varas, não é sermão, é feixe. Se tudo forem flores não é sermão, é um ramalhete. E nem tudo é fruto, porque não existe fruto sem árvore. Assim que nesta árvore, que podemos chamar de árvore da vida, ver-se-á o proveito que o fruto traz; a formosura das flores; o vigor das varas, o vestido das folhas, os ramos estendidos, porém, tudo isso é nascido e formado a partir de um tronco, e esse não é solto no ar, senão arraigado nas raízes do evangelho. Seminare semen. Eis como devem ser os sermões e eis como não devem ser. Assim, não é preciso muito para que o sermão frutifique.

Tudo o que tenho falado poderia ser demonstrado largamente, não só com os preceitos de Aristóteles, dos Túlios, dos Quintilianos, mas com a prática observada pelo príncipe dos oradores evangélicos, João Crisóstomo, por São Basílio Magno, São Bernardo, São Cipriano e com as famosíssimas orações de Gregório Nazianzeno, mestres de ambas as igrejas. E posto que nestes mesmos padres, como em Agostinho, Gregório e muitos outros os evangelhos estão apostilados com nomes de sermões e homilias; uma coisa é expor, outra é pregar; uma ensinar e outra persuadir. Sobre esta última é que falo, com a qual tanto fruto deram pregadores santos. Mas, nem por isso entendo que seja esta a verdadeira causa que procuro.

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Seria pela falta de conhecimento que existe em tantos pregadores? Muitos pregadores vivem do que não colheram e semeiam o que não trabalharam. Depois da sentença de Adão a terra não costuma dar fruto, a não ser aquele que é preparado com o suor de seu rosto. Esta, pois, parece ser uma boa razão. O pregador deve pregar o seu e não o alheio, pois Cristo diz que semeou o lavrador o seu fruto: Semen suum. Semeou o seu e não o alheio, porque o alheio e o furtado não serve pra ser semeado, ainda que se furte o conhecimento. Eva comeu o pomo do conhecimento, e queixava-me eu antigamente dessa nossa mãe, já que comeu o pomo, porque não guardou as sementes? Não seria bom que reservasse pra nós as sementes, assim como nos reservou suas conseqüências? Por que Eva não fez isso? Porque o fruto era roubado, e o alheio é bom para comer, mas não é bom para semear. É bom para comer, porque dizem que é saboroso, não é bom para semear porque não nasce. Alguém terá experimentado que o alheio lhe nasce em casa, mas, esteja certo que não nasceu, não lançará raízes, e o que não tem raízes não frutifica.

Eis aqui por que muitos pregadores não dão frutos, porque pregam o alheio e não o seu. Semen suun. Pregar é entrar na batalha contra os vícios, e armas alheias, ainda que sejam de Aquiles a ninguém deram vitória. [18] Quando Davi saiu para lutar contra o gigante, Saul lhe ofereceu suas armas, mas ele não as quis aceitar. Com armas alheias ninguém pode vencer, ainda que seja Davi. As armas de Saul servem somente a Saul, e as de Davi a Davi, e mais proveito na mão de Davi tem uma funda e um cajado próprios que a espada e a lança alheia. Pregador que peleja com as armas alheias, pode estar certo de que não derrubará o gigante. Cristo, de seus apóstolos os fez pescadores de homens, e o que faziam os apóstolos? Diz o texto que estavam reficientes retia sua; refazendo suas redes; eram as redes dos apóstolos e não eram alheias. Note; Retia sua: Não diz que eram suas porque as compraram, senão que eram suas porque as faziam; não eram suas porque custaram o seu dinheiro, se não porque lhe custaram o trabalho. Desta maneira eram as redes suas; e por serem suas, eram redes de pescadores que pescariam homens. Com redes alheias ou feitas por mãos alheias, podem-se pescar peixes, mas não homens. Isto porque nesta pesca de entendimentos só quem sabe fazer a rede, sabe fazer o laço. Como se faz uma rede? A malha é feita de fios e nós; quem não tece nem ata como pescará homens? A rede tem chumbada que a leva para o fundo e a cortiça que a eleva acima das águas. A pregação tem umas coisas de mais peso e mais fundo, e têm outras mais superficiais e mais leves, e manobrar o pesado e o leve só o pode fazer quem a rede fez. Na boca de que não prepara a pregação, até o chumbo é cortiça. As razões não deverão ser enxertadas, deverão ser nascidas. O pregar não é recitar. As razões próprias nascem do entendimento, as alheias vão apegadas à memória, e os homens não se convencem pela memória, senão pelo entendimento.

O Espírito Santo veio sobre os apóstolos, e quando as línguas desciam do céu, cuidava eu que se lhes haviam de pôr na boca, mas elas repousaram sobre a cabeça. Então, por que na cabeça e não na boca que é o lugar da língua? Porque o que o pregador tem a dizer não sairá somente pela boca; sairá da cabeça e da boca. O que sai apenas da boca pára nos ouvidos; o que nasce do juízo penetra e convence o entendimento. Estas línguas do Espírito Santo têm muitos mistérios. Diz o texto que as línguas não caíram sobre os apóstolos, mas uma sobre cada um deles (Atos 2.3). E por que cada um sobre cada um e não todas sobre todos? Porque não servem todas as línguas a todos, senão cada um a sua própria língua. Uma língua só sobre Pedro, porque a língua de Pedro não serve a André; porque a língua de André não serve a Felipe. Outra língua sobre Filipe, porque a língua de Filipe não serve a Bartolomeu etc. Veja o estilo de cada um dos apóstolos sobre quem veio o Espírito Santo. Temos relatos escritos de apenas cinco deles, mas a diferença com que escreveram, como sabem os mestres é admirável. As penas foram tiradas das asas daquela pomba divina, mas o estilo tão diverso, tão particular e tão próprio de cada um mostra quem era cada um deles. Mateus, fácil. João, misterioso. Pedro, grave, Tiago, forte; Judas Tadeu sublime, mas todos com tal valentia no falar que cada palavra era um trovão; cada cláusula um raio, e cada razão um triunfo. Ajuntem-se os cinco e a Lucas e Marcos e encontrareis o número daqueles sete trovões que João ouviu no Apocalipse: Locuta sunt septem tonitrua voces suas. [19]

Eram suas vozes e não de outros. Enfim, pregar o alheio é pregar o alheio, e com o alheio nunca se faz coisa boa. Contudo, eu não me firmo de todo nesta razão, porque do grande João Batista sabemos que pregara o que falara Isaías, como notou Lucas: “Ele percorreu toda a circunvizinhança do Jordão, pregando batismo de arrependimento para remissão de pecados, conforme está escrito no livro das palavras do profeta Isaías: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas” (Lc 3.3).

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Seria a causa que buscamos a voz com que falam os pregadores? Antigamente pregavam bradando, hoje pregam conversando. Antigamente um pregador era conhecido pela boa voz e pelo bom peito. E, claro, como o mundo é governado pelos sentidos, os brados são mais preferidos que as razões. Este é um bom argumento, mas não podemos prová-lo com o semeador, porque já dissemos que semear não é ofício da boca. Porém, o que nos negou o evangelho no semeador metafórico, nos deu no semeador verdadeiro que é Cristo. Tanto que Cristo ao terminar a parábola, diz o evangelho, começou a bradar: Haec dicens elamabat. [20] O Senhor bradou e não arrazoou sobre a parábola, porque era tal o auditório que fiou mais dos brados que da razão.

Perguntaram a João, o Batista, “quem és tu?” e ele respondeu: Ego Vox clamantis in deserto. [21] Eu sou uma voz que anda bradando neste deserto, e foi assim que João se definiu. Eu cuidara que a definição do pregador era: voz que arrazoa e não voz que brada. Pois, por que João se definiu pelo bradar, e não pelo arrazoar; não pela razão, senão pelos brados? Porque existe muita gente que os brados são mais efetivos que a razão, e assim era o público a quem João se dirigia. Veja claramente em Cristo. Depois que Pilatos examinou as acusações que contra Cristo se davam, lavou as mãos e disse: Ego nullam causam invenio in homine isto. [22] Nada encontrei neste homem. Neste tempo, todo o povo e os escribas bradavam do lado de fora que Cristo fosse crucificado: At illi magis clamabant, crucifigatur. [23] Assim, Cristo tinha por si a razão e contra si os brados. E qual foi mais efetivo? Os brados foram mais fortes que a razão. A razão não valeu para o livrar, mas os brados bastaram para levá-lo a cruz. E como os brados são tão eficazes é comum aos pregadores berrar e não arrazoar. Por isso Isaías clamou aos pregadores, nuvens: Qui sunt isti, qui ut nubes volant? [24] A nuvem tem relâmpago, trovão e raio. Relâmpago para os olhos, trovão para os ouvidos, raio para o coração. Com o relâmpago ilumina, com o trovão assombra, e com o raio mata. O raio fere a um, o relâmpago a muitos, e o trovão a todos. Assim há de ser a voz do pregador: Um trovão do céu que assombre e faça tremer o mundo.

Mas, que diremos à oração de Moisés: Concrescat ut pluvia doctrina meã: fluat ut ros eloquium meum? [25] Desça minha doutrina como a chuva do céu e a minha voz e minhas palavras como orvalho que se destila brandamente e sem ruído? Que diremos ao exemplo ordinário de Cristo, tão celebrado por Isaías: Non clamabit neque audietur voz ejus foris? [26] Não clamará, não bradará, mas falará com uma voz tão moderada que se não consiga ouvir do lado de fora. Sem dúvida que falar ao pé do ouvido e não aos ouvidos, não só chama mais atenção, mas, naturalmente e sem força se insinua, porque entra, penetra e se mete na alma.

Concluo que a razão dos pregadores não darem frutos com sua pregação da palavra de Deus, não é a circunstância da pessoa: Qui seminat; nem o estilo: seminare; nem a matéria: semen; nem o conhecimento: suun; nem a voz: Clamabat. Moisés tinha uma voz fraca. [27] Amós tinha um estilo grosseiro. [28] Salomão multiplicava e variava os assuntos. [29] Balaão não tinha exemplo de vida. [30] O seu animal não tinha conhecimento, e, contudo, todos estes falando, persuadiam e convenciam. Pois se nenhuma das razões que discorremos, nem todas elas juntas são a causa principal nem a causa suficiente para a falta de fruto dos pregadores, qual, então, a verdadeira causa da palavra dos pregadores não frutificar?
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As palavras que tomei por tema o dizem: Semen est Verbum Dei. Sabem, por que as pregações não trazem resultados hoje? É porque as palavras dos pregadores são palavras, mas não são as palavras de Deus! Falo aqui do que ordinariamente se ouve. A palavra de Deus – como dizia – é tão poderosa e tão eficaz, que não dá fruto apenas em boa terra, mas até nas pedras e por entre os espinhos nasce. Mas, se as palavras dos pregadores não são palavras de Deus como se sentirá o efeito delas? Ventum seminabant, et turbinem colligent, [31] diz o Espírito Santo: Quem semeia ventos colhe tempestades. Se os pregadores semeiam vento, se o que se prega é vaidade, se não se prega a palavra de Deus, eis a razão porque a igreja de Deus colhe tormenta em vez de frutos.

Vocês perguntarão: Mas, padre, os pregadores de hoje não pegam o evangelho, não pregam as sagradas escrituras? Pois, como não pregam a palavra de Deus? Esse é o mal. Pregam palavras de Deus, mas não pregam a palavra de Deus. Qui habet sermonem meum, loquatur sermonem meum vere, [32]disse Deus através de Jeremias. As palavras de Deus pregadas no sentido em que Deus as disse são palavras de Deus; mas, pregadas no sentido que nós queremos, não são palavras de Deus, antes, podem ser palavras de demônios. O demônio tentou a Cristo para que transformasse as pedras em pão. Respondeu-lhe, o Senhor: Non in solo pane vivit homo, sed in omni verbo, quod procedit de ore Dei. [33] Esta sentença foi tirada do capítulo oito de Deuteronômio. Quando o demônio viu que o Senhor se livrava da tentação usando a escritura, levou-o ao templo, e usando o Salmo 90, diz-lhe desta maneira: Mitte te deorsum; scriptum este mim, quia Angelis suis Deus mandavit de te, ut custodiant te in omnibus vii tuis. [34] Atira-te daqui, porque nas escrituras está escrito que os anjos te tomarão em seus braços para que mal algum sofras. De sorte que Cristo se defendeu do diabo com as escrituras, e o diabo tentou a Cristo usando as escrituras. Todas as escrituras são palavras de Deus; pois, se Cristo usa a palavra de Deus para se defender do diabo, como o diabo toma a Escritura para tentar a Cristo? A razão é porque Cristo usava as palavras da escritura em seu verdadeiro sentido, e o diabo tomava as palavras da escritura em sentido alheio e distorcido. E, as mesmas palavras, que usadas em seu verdadeiro sentido são palavras de Deus, tomadas em sentido alheio são armas do diabo. As mesmas palavras tomadas no sentido em que Deus as disse são defesa; tomadas no sentido em que Deus não disse, são tentação. Eis aqui a tentação com o que o diabo tentou derrubar a Cristo e que hoje faz a mesma guerra do pináculo do templo. O pináculo do templo é o púlpito; porque é o lugar mais alto do templo. O diabo tentou a Cristo no deserto, tentou-o no monte; tentou-o no templo: no deserto tentou-o com a gula, no monte tentou-o com a ambição; no templo tentou-o com as escrituras mal interpretadas; essa é a tentação que mais sofre a igreja, e que em muitas partes têm derrubado dela não só a Cristo, mas a fé!

Digam-me pregadores (aqueles com que falo indignos verdadeiramente de tão sagrado nome); falem-me desses assuntos inúteis que tantas vezes vocês pregam; esses tópicos, que, ao que parece vocês tanto gostam, vocês os encontraram nos profetas do Antigo Testamento ou nos apóstolos e evangelistas do Novo Testamento ou em Cristo, o autor de ambos os testamentos? É certo que não. Porque do Gênesis ao Apocalipse não se vê tais coisas nas escrituras. Pois se nas escrituras não há base para o que vocês pregam, como, então vocês pregam a palavra de Deus? E mais. Nesses lugares, nesses textos que vocês alegam ser a prova do que dizem, é esse o sentido do que Deus disse? É nesse sentido que entendem os pregadores da igreja? É esse o sentido da mesma gramática das palavras? Claro que não. Porque muitas vezes vocês tomam pelo que lhes parece e não pelo que significam. E se não são palavras de Deus por que nos queixamos que não frutificam? Basta que se tragam as palavras de Deus e lhes dê o sentido que nós queremos, e não haveremos de dizer o que elas dizem! Verdadeiramente não sei o que mais me espanta, se dos nossos conceitos ou de seus aplausos. Ó que pregação maravilhosa! Assim é, mas quem a tornou maravilhosa? Um falso testemunho ao texto, outro ao entendimento ou ao sentido de ambos. Então, querem que o mundo se converta com falsos testemunhos da palavra de Deus? Se alguém achar que minha censura é forte demais, ouça-me!

Cristo estava em pé sendo acusado diante de Caifás, e o evangelista Mateus diz que vieram duas falsas testemunhas: Novissime venerunt duo falsi testes. [35] Essas testemunhas afirmaram que Cristo disse que se os judeus destruíssem o templo ele o reconstruiria em três dias. Ao lermos o evangelista João veremos que ele, de fato falou isso. Pois se Cristo falara que ele reedificaria o templo em três dias, e era a isto o que as testemunhas diziam, por que o evangelista as chama de falsas testemunhas? Quando Cristo falou que em três dias reconstruiria o templo referia-se ao seu corpo que é o templo, afirmou João. [36] Os judeus destruíram seu templo pela morte, e o Senhor o reconstruiu pela ressurreição; e como Cristo falava do templo místico, e as testemunhas se referiam ao templo de pedras de Jerusalém, ainda que as palavras eram verdadeiras, as testemunhas eram falsas. Eram falsas porque Cristo falou aquelas palavras com um sentido, e as testemunhas se referiam a outro sentido. E quando se menciona a palavra de Deus num sentido diferente do que foi dito, levanta-se falso testemunho diante de Deus; falso testemunho das escrituras. Ah! Senhor, quantos falsos testemunhos ainda hoje se levantam contra ti! Quantas vezes ouço dizer que disseste o que nunca falaste! Quantas vezes ouço dizer que suas palavras não passam de minhas imaginações.

Miseráveis de nós. Miseráveis do nosso tempo, pois nele se cumpre a profecia de Paulo: Erit tempus, cum sabam doctrinam non sustinebunt. [37] Chegará o tempo em que os homens não suportarão a sã doutrina, mas, para seu apetite terão grande número de pregadores feitos em série, sem escolha, que gostam apenas de causar coceiras nos ouvidos de seus ouvintes. Fecharão os ouvidos à verdade, e o abrirão às fábulas. Fábulas possuem dois sentidos: Fingimento e comédia. E são estas as pregações que se ouvem neste tempo. É fingimento, porque são sutilezas e pensamentos aéreos sem fundamento da verdade, e são comédias, porque os ouvintes veem a pregação como um divertimento; e pregadores há que sobem no púlpito como comediantes! Uma das coisas que se comentava presentemente era de que se acabaram as comédias em Portugal. Mas não é assim. Não se acabaram as comédias; mudaram de lugar. Saíram do teatro para os púlpitos. Por isso chamo de comédias muitas das pregações que ouço. Quisera ter aqui as comédias de Plutão, de Terêncio, de Sêneca e vocês veriam se nelas não existem tantos desenganos da vida, vaidade do mundo, muitos pontos de doutrina moral, muito mais verdadeiros e muito mais sólidos do que as pregações que hoje se ouvem nos púlpitos. Certamente a pior coisa hoje é que existam tantos conselhos para a vida nos versos de um poeta profano e gentio do que nas pregações de um orador cristão, e, muitas vezes sobre cristão religioso!

Paulo não falou muito sobre um sermão ser comédia, porque existem sermões que não são comédia, mas uma farsa. Sobe ao púlpito um pregador que se afirma morto para o mundo, vestido com simplicidade, o que indica penitência, (que todos, mais ou menos ásperos são de penitência, e todos desde o dia em que o professam, mortalhas), a vista é de horror, o nome de reverência, a dignidade de oráculo, o lugar e expectativa de silêncio; e, quando este se rompeu, o que se ouve? Se neste auditório estivesse um estrangeiro que não nos conhecesse, e visse esse homem entrar e subir ao púlpito naqueles trajos imaginaria que haveria de ouvir uma trombeta do céu; que cada palavra sua seria como um raio para os corações, que haveria de pregar com zelo, e com o fervor de um Elias, que com a voz, com o gesto, e com as ações, haveria de transformar os vícios em pó e cinza. Assim pensaria ou esperaria o estrangeiro. E nós, o que vemos? Vemos sair da boca daquele homem, vestido assim tão humildemente, uma voz trabalhada e polida, e logo começar com muito desgarro, a quê? A motivar desvelos, a acreditar empenhos, a requintar firmezas, a lisonjear precipícios, a brilhar auroras, a derreter cristais, a desmaiar jasmins, a tocar primaveras e outras mil indignidades. Não é isto farsa a mais digna de riso, se não foram tanto para chorar? Na comédia o rei se veste como rei, fala como rei; o lacaio, o rústico veste como rústico e fala como rústico, mas, um pregador se vestir como religioso e falar como... Não o quero dizer por reverência do lugar. Já que o púlpito é teatro, e o sermão comédia, não se deveria proceder corretamente com essas figuras? Assim pregava Paulo, assim pregavam aqueles patriarcas que se vestiram e nos vestiram desses hábitos? Não louvamos e não admiramos o seu pregar; não nos prezamos de sermos seus filhos? E, por que não os imitamos? Por que não pregamos como eles pregavam? Neste mesmo tempo pregou São Francisco Xavier, São Francisco de Borja, e eu que me visto como eles por que não pregarei a sua doutrina, já que me falta o seu espírito?

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Vocês dirão a mesma coisa que outros me dizem e o que já tenho experimentado, que se pregarmos assim, zombam de nós os ouvintes e não gostam de ouvir. Oh! Boa razão para um servo de Jesus Cristo! Zombem e não gostem, embora, e façamos nosso trabalho. A doutrina que eles zombam, que desestimam, essa é a que lhes devemos pregar, e, por isso mesmo, porque é a mais proveitosa e mais importante. O trigo que caiu no caminho comeram-no as aves. Estas aves, como explicou Jesus são os demônios que tiram a palavra de Deus do coração dos homens: Venit diabolus, et tollit verbum de corde eorum. E por que o diabo não comeu o trigo que caiu entre os espinhos ou o trigo que caiu nas pedras, mas apenas o que caiu à beira do caminho? Porque o trigo que caiu no caminho, pisaram-no os homens. E a doutrina que os homens pisam, a doutrina que os homens desprezam essa é a que o diabo mais teme! Desses outros conceitos, desses outros pensamentos, dessas outras sutilezas que os homens apreciam e prezam, essas ele não teme, nem se interessa o diabo, porque sabe que essas pregações não arrebatarão as pessoas de suas garras. Mas, daquela doutrina que cai, secus viam; daquela doutrina que parece trilhada; que nos põe a caminho para a nossa salvação (que é a que os homens pisam, e desprezam), essa é a de que o demônio tem medo e se acautela; essa é a que ele procura comer e tirar do mundo. Assim, essa é a que deviam pregar os pregadores e a que os ouvintes deveriam anelar. Mas, se eles não o fizerem assim, e zombarem de nós, zombemos nós tanto de suas zombarias, como de seus aplausos. Per infamiam, et bonam famam, [38] . O pregador saberá pregar com fama e sem fama. Ainda diz mais o apóstolo: Pregará com fama e com infâmia. Quando o pregador prega para ficar famoso é mundanismo. Mas, inflamado e pregar o que convém, ainda que seja com descrédito de sua fama, isso é ser pregador de Jesus Cristo.

Gostem ou não os ouvintes! Oh! Que advertência tão digna! Que médico há que repare no gesto do enfermo quando trata de cuidar da saúde? Que fiquem sarados, gostem ou não. Salvem-se e amarguem-lhes, pois para isso somos médicos de almas. Que pedras são essas sobre as quais caiu boa parte do trigo do evangelho? Quando Cristo explica o sentido da parábola afirma que elas são os ouvintes que ouvem com gosto a pregação: Hi sunt, qui cum Gaudio suscipiunt verbum. Será que os ouvintes gostam e que ao fim continuem sendo pedras? Não gostem, e abrandem-se; não gostem e quebrem-se; não gostem e frutifiquem. Foi desse modo que frutificou o trigo que caiu em boa terra. Et fructum afferunt in patientia, conclui Cristo. De maneira que o frutificar não se ajunta com o gostar, se não com o padecer; frutifiquemos e tenham eles paciência. A pregação que frutifica; a pregação que aproveita, não é aquela que o ouvinte goste e, sim aquela que lhe traz penas (dores pelo pecado). Quando o ouvinte treme a cada palavra do pregador; quando cada palavra do pregador é uma tortura para o coração do ouvinte; quando o ouvinte ouve o sermão e volta pra casa confuso e atônito, sem saber parte de si, então é a pregação que convém e pode-se esperar que frutificará. Et fructum afferunt in patientia.

Enfim, para que os pregadores saibam o que hão de pregar e os ouvintes o que hão de ouvir, dou um exemplo de nosso reino, quase de nosso tempo. Pregavam em Coimbra dois famosos pregadores, ambos conhecidos por seus escritos. Não os cito porque posso desigualá-los. Altercou-se entre alguns doutores da universidade qual dos dois era o maior pregador, e, como não existe julgamento sem parcialidade, uns dizem este; outros, aquele. Mas, um deles, que entre os demais tinha maior autoridade, concluiu desta maneira: Entre dois sujeitos tão grandes não me atrevo opinar e julgar, apenas direi uma diferença que sempre experimento. Quando ouço um, saio do sermão muito contente com o pregador; quando ouço o outro, saio descontente comigo. Isso diz tudo.

Alguma vez vocês se enganaram comigo e saíram do sermão contentes com o pregador; agora, quisera eu enganar a vocês que sairão descontentes consigo mesmos. Semeadores do evangelho, eis o que devemos pretender com nossos sermões; não que os homens saiam contentes conosco, se não que saiam descontentes com eles; não que lhes pareçam bem os nossos conceitos, mas que lhes pareçam mal os seus costumes, as suas vidas, os seus passatempos, as suas ambições e, enfim, todos os seus pecados. Contanto que fiquem tristes consigo, que se entristeçam conosco. Si hominibus placerem, Christi servus non essem, [39] dizia Paulo, o maior de todos os pregadores. Se eu agradasse aos homens não seria servo de Deus. Oh! Contentemos a Deus, e não façamos caso dos homens! É preciso advertir que nesta igreja existem tribunas mais altas que as que vemos. Spectaculum facti sumus Deo, Angelis, et hominibus [40]. Acima da tribuna dos reis estão as tribunas dos anjos, mais acima o tribunal de Deus que nos ouve e que há de nos julgar. Que contas prestará a Deus um pregador no dia do juízo? O ouvinte dirá: Não me falaram disso, mas, e o pregador? Vae mihi, quia tacui. [41] Ai de mim que não disse o que era para ser dito! Não seja mais assim, por amor de Deus e de nós. Estamos às portas da Quaresma que é o tempo em que, principalmente se semeia a palavra de Deus na igreja e em que ela se arma contra os vícios. Preguem e nos armem contra os pecados, contra as soberbas, contra os ódios, contra as ambições, contra as invejas, contra as cobiças e a sensualidade. Veja o céu que ainda tem na terra; saiba o inferno que ainda há na terra quem lhe faça guerra com a palavra de Deus; e saiba a mesma terra que ela está reverdecendo e que ainda pode muito frutificar.




[1] Vieira faz um trocadilho com paço (palácio) e passos, (andar).
[2] Ez 1.12
[3] Marcos 16.15
[4] Ez 1.14
[5] Mateus 5.45: porque ele faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos.
[6] Liberdade para escolher; arbítrio, vontade própria
[7] 1 Samuel 16.23
[8] João 1.14: E o Verbo se fez carne.
[9] João 3.2: porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele.
[10] Romanos 10.17: a fé vem pela pregação
[11] Gn 30.39
[12] Salmo 19.1: Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas mãos.
[13] Salmo 19.4: por toda a terra se faz ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo. Aí, pôs uma tenda para o sol.
[14] Juízes 5.20: Desde os céus pelejaram as estrelas contra Sísera, desde a sua órbita o fizeram.
[15] N. T. Dicionário de Ambrósio Calepino publicado em 1502 teve várias edições ao longo os anos.
[16] Mt 3.3: Preparai o caminho do Senhor.
[17] Jonas 3.4: Ainda quarenta dias, e Nínive será subvertida.
[18] Pátroclo com as armas de Áquila foi vencido e morto.
[19] Ap 10.3: “e, quando bradou, desferiram os sete trovões as suas próprias vozes”.
[20] Lucas 8.8: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!
[21] João 1.23: Eu sou a voz que clama no deserto.
[22] Lucas 23.14. Nenhuma coisa encontrei neste homem.
[23] Mateus 27.23: Porém cada vez clamavam mais: Seja crucificado!
[24] Isaías 60.8: Quem são estes que vêm voando como nuvens e como pombas, ao seu pombal?
[25] Dt 32.1: Goteje a minha doutrina como a chuva, destile a minha palavra como o orvalho, como chuvisco sobre a relva e como gotas de água sobre a erva.
[26] Isaías 42.2 Não clamará, nem gritará, nem fará ouvir a sua voz na praça.
[27] Ex 4.10: voce gracili, segundo a Septuaginta.
[28] Am 1.1
[29] Eclesiastes 1
[30] Números 22 e 23
[31] Este digitador não encontrou em lugar algum da Bíblia esta expressão atribuída ao Espírito Santo.
[32] Jeremias 23.28: aquele em quem está a minha palavra fale a minha palavra com verdade.
[33] Mateus 4.4: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus.
[34] Mateus 4.6: Se és Filho de Deus, atira-te abaixo, porque está escrito: Aos seus anjos ordenará a teu respeito que te guardem; e: Eles te susterão nas suas mãos, para não tropeçares nalguma pedra.
[35] Mateus 26.60: Apareceram duas testemunhas...
[36] João 2.21: Ele, porém, se referia ao santuário do seu corpo.
[37] 2 Timóteo 4.3: Pois haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina.
[38] 2 Coríntios 6.8: por honra e por desonra
[39] Gálatas 1.10: Se agradasse ainda a homens, não seria servo de Cristo.
[40] 1 Coríntios 4.9: porque nos tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens. (No texto lê-se mundo, e não Deus).
[41] Isaías 6.5: Estou perdido!