Traduzido por:
João A. de Souza Filho
De: The Lost
Books of the Bible
Documentos que ligam a
história romana com a morte de Cristo em Jerusalém.
Introdução:
(Estas cartas aparecem
nos manuscritos siríacos do sexto e sétimos séculos e estão atualmente no Museu
Britânico. O Dr. Tischendorf declara em seu Apocalypses Apocryphae que ele tem
uma cópia dessas cartas em grego de um manuscrito de Paris, do qual afirma:
“scriptura satis differt, nom item argumentum.” Acompanham essas cartas alguns
dados que podem ter sido acrescentadas por algum copista ainda que acompanhem a
mesma declaração das cartas de Pilatos. É supostamente através de Justino que
entendemos Justo de Tiberíades do qual Josefo aborda em seu livro de história.
Não nos aventuramos em dar uma opinião favorável quanto a veracidade desses
extratos, porque Pótio (Potius) afirma que Justo não menciona a Cristo. É
através de Teodoro que entendemos o imperador Tibério. A pergunta e a resposta
concorda em sentido com o que lemos em Anáfora ou resposta de Pilatos).
Carta de Herodes
a Pilatos, o governador
Herodes
a Pôncio Pilatos governador de Jerusalém: Paz.
Estou em grande ansiedade
e expectativa. Escrevo-lhe estas coisas para que quando você ficar ciente de
tudo consiga ter pena de mim. Minha filha Herodias, a quem muito estimo, estava
brincando em um lago congelado que se rompeu debaixo dela e afundou na água e
sua cabeça foi cortada ficando boiando na superfície de gelo. Sua mãe ficou
segurando sua cabeça entre os joelhos e toda minha casa entrou em pânico. E eu,
ao ouvir de um homem chamado Jesus, queria muito ir até aí para vê-lo sozinho e
ouvir suas palavras se era realmente como os filhos dos homens.
E devido a tudo de mal
que eu fiz a João, o Batista e por haver zombado de Cristo, recebo assim a
recompensa [1]
da justiça porque derramei muito sangue de outras crianças sobre a terra. [2]
Portanto, os juízos de Deus são corretos, e cada homem é recompensado conforme
seus pensamentos (e obras). Mas, já que você teve o privilégio de ver o
Deus-homem, quero, portanto, que você ore por mim.
Meu filho Azbonio está
também agonizando às portas da morte.
Eu também me sinto
aflito e em grande tribulação porque tenho hidropisia [3] o
que me deixa desanimado, porque eu persegui aquele que introduziu o batismo em
águas, que foi João. Por isso, meu irmão, os juízos de Deus são verdadeiros.
E, minha esposa, outra
vez, com toda essa tristeza pela minha filha está ficando cega de seu olho esquerdo,
porque desejamos cegar os olhos dos justos. Não haverá paz para os olhos dos
justos, diz o Senhor. [4] São
grandes as aflições que têm vindo sobre os sacerdotes e escribas da lei, por haver
entregue a você o Justo. Porque esta é a consumação do mundo, pois permitiram
que os gentios se tornassem seus herdeiros. Porque os filhos da luz serão
cortados,[5]
por não haverem obedecido ao que foi anunciado a respeito do Senhor e a
respeito de seu Filho. Portanto, vocês devem se cingir com as vestimentas da justiça,[6]
você, juntamente com sua esposa lembrem-se de Jesus noite e dia, e o Reino será
dos gentios, porque nós, o povo escolhido zombamos do Justo.
Agora, se você
considerar nosso pedido, ó Pilatos, porque naquele tempo estávamos revestidos
de poder, sepulte minha família cuidadosamente, porque é justo que sejamos
sepultados por você, e não pelos sacerdotes, sobre quem, depois de algum tempo,
como dizem as Escrituras, a vingança sobre eles cairá.
Adeus! Despeço-me de
você e de Procla sua esposa.
Envio-lhe também os
brincos de minha filha e meu próprio anel, que estejam com você como memorial
de minha partida. Porque já os vermes começam a comer o meu corpo, [7] e
eis que estou recebendo meu juízo temporal, e tenho medo do juízo final que me
sobrevirá. Pois em ambos ficamos em pé diante do Deus vivo, mas este juízo que
é temporal, dura pouco, mas o último será eterno.
Fim da carta a Pilatos,
o governador.
Carta de Pilatos
a Herodes
Pilatos
a Herodes o Tetrarca: Paz
Saiba que no dia em que
você me enviou Jesus para eu decidir sobre o destino dele, fiquei pesaroso e
para mostrar meu remorso lavei minhas mãos (mostrando que eu era inocente). Falo
de Jesus que ressuscitou dos mortos depois de três dias, aquele que você teve o
prazer de condenar, porque você me pediu para me associar com você
crucificando-o. Depois ouvi dos executores e dos soldados que vigiavam sua
sepultura que ele ressuscitara dos mortos. Eu mesmo comprovei o que me foi dito
de que ele apareceu fisicamente na Galileia, do jeito que ele era, com a mesma
voz, a mesma doutrina e com os mesmos discípulos, sem haver mudança alguma
nele. No entanto, pregava com ousadia sobre sua ressurreição e o reino eterno.
Os céus e a terra se
alegram. Veja: Procla, minha esposa crê nas visões que teve naquele dia quando
você me enviou Jesus para eu decidir o futuro dele, devendo ou não entregar
Jesus para o maligno povo de Israel. Agora, quando Procla, minha esposa ouviu
que Jesus ressuscitara dos mortos e que aparecera na Galileia, ela levou
consigo Longinius, o centurião e doze soldados, no mesmo dia em que ela foi ao
sepulcro, e saiu à procura da face de Cristo, e ela o viu com seus discípulos.
Enquanto estavam ali
obcecados mirando-lhe a face, ele olhou para eles e lhes perguntou: Vocês creem
em mim? Procla sabia que na aliança que Deus fizera com o povo de Israel, está
profetizado que os mortos ressuscitarão. Ele disse: É isto o que vocês veem.
Aquele que vocês crucificaram está vivo! Sofri muito e fui sepultado, mas
agora, ouçam-me em creiam em meu Pai – Deus que em mim está. Porque arrebentei
as correntes da morte e rompi os portões do inferno, e haverei de voltar.
E quando Procla, minha
esposa e os romanos ouviram isto, chegaram-se onde eu estava e me contaram
tudo. Porque estes também agiram contra Jesus e mereciam o mal por tudo o que
lhe fizeram. Por isso, fiquei prostrado na cama, me vesti com panos de saco,
lamentei por meus pecados e, tomando cinqüenta soldados me dirigi para a
Galileia. E quando estava a caminho testemunhei sobre os fatos, que fui levado
a cometer essas coisas influenciado por Herodes, que Herodes se aconselhara
comigo e me constrangeu a levantar minha mão contra Jesus; julgar o Justo que é
sobre todos os justos. Quando chegamos perto dele, ó Herodes, ouvimos uma voz
vinda do céu, como um trovão ameaçador; a terra estremeceu, e sentimos um sabor
doce no ar, um perfume como nunca se sentira nem mesmo no templo de Jerusalém.
O Senhor me viu
enquanto falava com seus discípulos. Fiquei orando em meu coração porque sabia
que ele me libertaria, e que ele era o Senhor e Criador de todas as coisas.
Nós, quando o vimos nos prostramos com o rosto em terra diante de seus pés. Eu
gritei bem alto: Eu pequei, ó Senhor, por haver julgado o Senhor, que é o
Verdadeiro. Sei que o Senhor é o Filho de Deus e que esteve (entre nós) em sua
humanidade e não em divindade. Mas, Herodes me constrangeu a lhe fazer mal.
Piedade, Senhor! Ó Deus de Israel.
[1] 2
Pe 2.13
[2] Mt
2.16. Nem é preciso dizer que não é o Herodes desta epístola que massacrou os
meninos de Belém. Os meninos foram mortos por Herodes, o Grande.
[3]
Acúmulo de líquidos anormais serosos nos tecidos.
[4] Is
48.22; 57.21
[5] Lc
16.8
[6] 1
Pe 1.13
[7] Um
anacronismo palpável. Atos 12.23.